Com casos de contaminação por coronavírus em queda, mas óbitos em situação de estabilidade em patamar ainda elevado, o Rio Grande do Sul acumulou ao longo da última semana a segunda pior taxa nacional de mortes por cem mil habitantes em razão da covid-19.
Os gaúchos ficaram atrás apenas do Mato Grosso do Sul no período entre os dois últimos sábados. Entre as possíveis explicações para isso estão o momento da pandemia no Estado, onde o agravamento ocorreu um pouco depois de outras regiões, e o perfil mais idoso da população. A proporção de idosos acima de 80 anos entre as vítimas dobrou entre novembro do ano passado e este mês.
Números compilados pelo Comitê de Dados vinculado ao governo estadual indicam que o Rio Grande do Sul notificou 378 mortes por covid-19 em sete dias até sábado (26) – a cifra de domingo não havia sido atualizada. Isso corresponde a 3,31 óbitos semanais por 100 mil habitantes, ou 38,5% a mais do que a média nacional de 2,39 no mesmo período. Em primeiro lugar, Mato Grosso do Sul registrou 3,53.
Como o Estado sempre se manteve no topo do ranking de vacinação (atualmente 75,2% da população tem esquema completo), especialistas acreditam que a explicação para o mau desempenho não tem relação com a campanha de imunização. Uma das hipóteses é que os gaúchos tenham entrado no ciclo de agravamento provocado pela variante Ômicron um pouco depois de outras regiões, e ainda estejam em uma fase mais inicial de desaceleração.
São Paulo e Santa Catarina, por exemplo, estavam em situação pior do que o Rio Grande do Sul em meados de janeiro, mas agora já se encontram com números mais favoráveis (3,01 e 2,34, respectivamente). Como o impacto do vírus não ocorre de forma sincronizada em todo o país, uma região onde a situação piorou primeiro pode estar já em fase de recuo enquanto outra, mais tardia, ainda se encontra em outro estágio. O cenário começou a se agravar entre os gaúchos na primeira quinzena do mês passado. Nas últimas duas semanas, o ritmo de crescimento da taxa de óbitos foi freado, mas a cifra segue oscilando próxima a 3 por cem mil habitantes.
– Pode haver pequenas diferenças no momento da pandemia – observa o infectologista Alexandre Zavascki.
O especialista aponta ainda que a Ômicron tem castigado especialmente a população mais idosa. O Rio Grande do Sul, com quase 20% da população acima de 60 anos e 3% acima de 80, acaba ficando em situação mais vulnerável em comparação a outros locais mais juvenis. Em todo o Brasil, a proporção de idosos fica pouco abaixo de 15%.
Os dados sustentam essa explicação. Nos últimos meses, a proporção de pessoas acima de 80 anos entre as vítimas da covid disparou no Rio Grande do Sul. Essa faixa etária respondia por cerca de 20% das mortes em novembro do ano passado. Agora, conforme o Boletim de Casos do Comitê de Dados, se aproxima de 42%.
– Uma das razões para isso (impacto entre os mais velhos) é que, como a maior parte da população está vacinada, vemos um agravamento dos casos justamente entre aquelas pessoas em que a vacina não consegue ser tão eficaz em razão do seu sistema imunológico, como idosos e imunossuprimidos – analisa Zavascki.
Como a notificação de novos casos caiu pela metade em um mês, e as internações hospitalares também estão em recuo, é possível que, nos próximos dias, a taxa de óbitos também passe a diminuir, e o Estado deixe as primeiras posições do ranking nacional de vítimas da doença.
Óbitos por coronavírus no Brasil
Estados com maior acumulado semanal de mortes por 100 mil habitantes
- Mato Grosso do Sul 3,53
- Rio Grande do Sul 3,31
- Rondônia 3,21
- Goiás 3,11
- São Paulo 3,01
Média do Brasil 2,39