O anúncio do Palácio Piratini de que, a partir de 1º de outubro, pistas de dança serão liberadas em festas infantis, eventos de entretenimento e encontros sociais (casamentos, aniversários, formaturas, bailes de debutante etc) no Rio Grande do Sul foi recebida com preocupação por médicos infectologistas.
Em consenso, especialistas afirmam que a cobertura vacinal do Rio Grande do Sul não garantirá ainda segurança para a medida e citam países com vacinação mais avançada, como Estados Unidos e Israel, que liberaram atividades e suspenderam o uso de máscaras, mas retrocederam em virtude da piora da pandemia, sobretudo entre não vacinados.
A decisão do Piratini leva em conta a queda sustentada de hospitalizações por covid-19, a liberação do Ministério da Saúde para aplicar a terceira dose em idosos e imunizar adolescentes de 12 a 17 anos em 15 de setembro e a expectativa de que, até o fim de outubro, haverá grande avanço na vacinação de duas doses, com perspectiva de 80% de gaúchos com esquema vacinal completo.
— Não temos certeza quando se dará o encaminhamento final. Se a segunda dose vier em 12 semanas, vai ser só em novembro. Mas, se for em oito semanas, teremos até o fim de outubro talvez toda a população possível com duas doses. Em breve devemos chegar a 90% da população vacinada no Estado, o que será um grande avanço e bom indicador para evoluções maiores — diz Bruno Naundorf, coordenador do Grupo de Trabalho de Protocolos do governo do Estado.
Até esta sexta-feira (3), 70,2% dos gaúchos receberam a primeira dose e 37,6% completaram o esquema vacinal. Dois médicos infectologistas entrevistados pela reportagem, entretanto, consideram prematura a liberação de pistas de dança em outubro.
— É evidente que vivemos momento de maior tranquilidade do que no passado. Mas lembro aos gaúchos a experiência de Estados Unidos, Europa e Israel, que abriram muito, à semelhança do que se propõe para outubro, e houve recrudescimento de casos. Podemos abrir quando acima de 70% ou 80% da população tiver duas doses, mas, tendo em vista o patamar atual, não há tempo até outubro para crescer tanto em cobertura de esquema vacinal completo — afirma o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Eventos sociais apresentam alto risco para transmissão de vírus e, com a variante Delta, a cobertura vacinal de segunda dose precisará ser elevada, observa o médico Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
— Seria muito mais seguro se a gente tivesse níveis mais baixos de doença para fazer atividades com maior risco. Os 80% de vacinação assumem um bloqueio de transmissão a partir do vacinado. Mas, com a Delta, alguns vacinados continuam transmitindo. Isso altera o cálculo de imunidade coletiva. Quanto mais você mantém atividades normais, maior é a porcentagem necessária para atingir a imunidade coletiva — diz.
Zavascki também teme que a liberação de pistas de dança passe ainda mais a sensação de que a pandemia acabou:
— Mesmo que não à risca, as pessoas ainda usam máscaras, e isso está ajudando no controle da transmissão. Mas, quando você oficializa que pode tirar, as pessoas vão tirar. Isso aumenta o risco para novos surtos.