Nesta sexta-feira (20), a farmacêutica AstraZeneca divulgou resultados que mostram que a terapia preventiva contra a covid-19 chamada de AZD7442 reduz consideravelmente as chances de indivíduos desenvolverem a forma sintomática da doença. O estudo está em seu estágio final (fase 3), contou com a participação de 5.197 pessoas — entre grupo placebo e o que recebeu o produto — e foi conduzido nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, na Espanha e na Bélgica.
O principal grupo-alvo para a nova terapia de anticorpos são pessoas que não produzem resposta satisfatória às vacinas contra a covid-19, motivo pelo qual a maioria dos voluntários da pesquisa possuía comorbidades ou condições que enfraqueciam seu sistema imunológico, como é o caso de pacientes oncológicos, em hemodiálise, transplantados e outros. Foi observado que 77% dos que receberam a medicação (por injeção intramuscular) foram protegidos contra a doença sintomática, e que os que chegaram a desenvolver a covid-19 vivenciaram apenas sua forma mais leve. Não foram registrados casos graves ou óbitos.
— Diante do resultado do estudo, entendemos que esse produto é suficiente para trazer proteção para essa população de alto risco. É uma terapia para pessoas que sabidamente não responderiam bem à vacina, pois já têm um sistema imunológico muito comprometido. O medicamento entrega a essas pessoas anticorpos prontos — afirma Bárbara Furtado, líder médica da AstraZeneca Brasil.
A empresa reforça que a medicação, administrada em uma dose, não é um substituto das vacinas, consideradas a melhor forma de proteção contra a covid-19. A terapia é vista como uma alternativa para a parcela da população que não pode tomar a vacina ou não apresentaria resposta satisfatória a ela, produzindo poucos anticorpos.
Iniciado em setembro de 2020, o estudo avaliou somente pessoas que não haviam sido vacinadas contra a covid-19 e que não haviam contraído o coronavírus anteriormente, informa Bárbara. O procedimento foi adotado para que o efeito dos anticorpos pudesse ser avaliado sem outras interferências. Mas mesmo no contexto atual, em que grande parte da população mundial ou já foi vacinada ou já contraiu a doença, a empresa reforça que não haveria contraindicação à terapia.
— Embora não tenhamos dados do uso do medicamento em uma população que já foi vacinada ou já teve a doença, entendemos que não existe contraindicação à administração da terapia à essa população. Quando um indivíduo toma uma vacina, ele faz seus anticorpos (lembrando que alguns indivíduos produzem menos). Com a nossa terapia, haveria uma proteção adicional. O anticorpo age somente contra a proteína S do Sars-CoV-2 — explica a pesquisadora.
Segundo a empresa, embora ainda não haja informações oficiais, análises em laboratório têm demostrado que os dois anticorpos monoclonais empregados na terapia conseguem neutralizar variantes de preocupação, como Alfa, Beta, Gama e Delta. Os próximos passos do estudo incluem analisar quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo humano: já há evidências de que eles resistam por pelo menos seis meses, mas a expectativa da farmacêutica é de que a proteção se estenda por cerca de um ano.
A empresa também está compilando dados referentes a eficácia, segurança, produção da molécula e armazenamento, etapa que espera concluir até o final do ano. Depois, o plano é submeter a documentação a diferentes agências regulatórias, inclusive à brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).