Um paciente com covid-19 aguarda, atualmente, menos tempo para ser alocado em leito clínico ou de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Porto Alegre do que aquele que precisa de hospitalização por outras doenças. O diagnóstico foi feito, nesta terça-feira (29), pela Central de Regulação de Leitos de Porto Alegre, setor da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) que coordena a utilização dos espaços hospitalares da rede pública.
Com a pandemia ainda em patamar elevado, porém estabilizado, o sistema hospitalar de Porto Alegre tem sentido, ao longo das últimas semanas, o peso do aumento das internações de pacientes com outras doenças. A mediana de tempo – cálculo utilizado pela regulação – para um paciente com covid-19 ser transferido para um leito de UTI é de 5 horas. Por outro lado, se o paciente precisar de uma vaga em UTI geral, a mesma medida de espera sobe para 17 horas.
– Hoje tenho mais dificuldade para dar acesso de pacientes aos leitos não covid-19 – explica o diretor de regulação da Saúde da Capital, Jorge Osório.
No caso dos leitos clínicos – também chamados de leitos de enfermaria – a situação se repete. Ainda conforme a Central de Regulação da Capital, para um paciente covid-19, a mediana de tempo é de 10 horas. Para o paciente não-covid, de 36 horas.
Com a demanda de leitos de pessoas com outras enfermidades, se torna ainda mais importante, na avaliação de Osório, o controle da pandemia. Isso porque se houver pressão simultânea de muitos pacientes com e sem covid-19, pode faltar leitos para atendimento adequado.
— Se a gente não tiver a dupla demanda, conseguimos aos poucos ir reduzindo os leitos covid-19 e dar conta da demanda represada de outros pacientes — explica Osório.
Hospitais se adaptam para a situação
A emergência não-covid do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) atendia, na tarde desta terça-feira, 42 pacientes por outras diversas causas. Como o setor tem 41 vagas reguladas no sistema, a lotação chegou a 102%. Entretanto, a instituição garantiu haver margem para a gestão desse número de pacientes, conseguindo adaptar o espaço para atendimento dos casos.
Havia ainda, segundo o hospital, outras 42 pessoas aguardando avaliação para definir se ficam na emergência, recebem alta ou vão para outros setores.
No Hospital Conceição, outra referência de atendimento na Capital, o número de casos fora os de covid-19 também começou a chamar a atenção, confirmando a observação da Central de Regulação de Leitos de Porto Alegre
— A nossa porta da entrada está diminuindo. Temos na nossa emergência hoje (terça) dois pacientes covid, e sem a doença temos 31 pacientes no mesmo setor. Então, isso mostra mesmo que a nossa maior demanda no momento é pacientes não-covid, mesmo que ainda tenhamos muitos com coronavirus nas nossas UTIs — relata o diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira.
O diretor-presidente do GHC reafirma não ser possível pensar em reduzir leitos para covid-19 porque os números se mantêm em patamar elevado. O cenário atual, segundo Oliveira, é muito parecido com o do mês de junho de 2020, quando se caminhava para um pico de internados com a doença. Atualmente, 60% dos pacientes nas UTIs do GHC estão com coronavírus.