Duas das quatro regiões que receberam bandeira vermelha na rodada deste sábado (13) de classificação de risco no sistema de distanciamento controlado, Santo Ângelo e Santa Maria tiveram reações distintas das suas autoridades.
Na cidade missioneira, a prefeitura definiu a classificação de risco alto, que determinará fechamento do comércio e do setor de serviços a partir de segunda-feira (15), como um “absurdo”. Em contrapeso, o prefeito Jorge Pozzobom, de Santa Maria, disse receber a novidade com “tristeza e preocupação”, lamentou a falta de cooperação das pessoas diante das medidas de prevenção e afirmou que a equipe do governo estadual encarregada dos critérios de aplicação do distanciamento controlado é “qualificada”.
O Palácio Piratini justificou a bandeira vermelha em Santo Ângelo devido à piora “em todos os indicadores que medem a propagação da doença”. Foram citados o aumento do número de pacientes confirmados de covid-19 em leitos clínicos, de sete para 14, e os registros de novas hospitalizações pela doença, que passaram de quatro para 15 na última semana. O município discorda dos números e ressalta que a capacidade de atendimento hospitalar está longe da saturação, dado que foi reconhecido pelo Estado nos cálculos do distanciamento controlado.
— Estamos com baixo índice de ocupação do Hospital de Caridade de Santo Ângelo. Neste sábado, temos dois pacientes internados em UTI por covid-19, em um bloco com 10 leitos específicos para isso. E temos mais quatro pacientes em leitos clínicos. As informações que temos são de que São Luiz Gonzaga e São Borja também estão com ocupação abaixo de 50%. É um absurdo botar a cidade inteira no vermelho. A população está indignada — diz Luís Carlos Cavalheiro, secretário da Saúde de Santo Ângelo.
Ele chegou a cogitar que o governador Eduardo Leite, com o sistema de bandeiras, procura rivalizar com o presidente Jair Bolsonaro, defensor da manutenção das atividades econômicas mesmo durante a pandemia.
O prefeito de Santo Ângelo, Jacques Barbosa, disse que irá procurar a Secretaria Estadual da Saúde (SES) para pedir esclarecimentos. Ele acredita que a bandeira laranja, de risco médio, cujas restrições são mais amenas em todos os setores, seria a mais adequada para a região.
Referência da região, Santo Ângelo registra, conforme dados da SES até as 21h deste sábado, 99 casos confirmados de coronavírus e seis óbitos.
Já o prefeito de Santa Maria se mostrou compreensivo. Pozzobom conta que um decreto municipal com medidas mais rigorosas entraria em vigor na próxima segunda para conter situações de aglomeração. Agora, com a bandeira vermelha, as restrições serão ainda mais amplas. Para o prefeito, não está havendo cooperação por parte da população.
— As pessoas não estão se ajudando, estão nas ruas sem máscara, em aglomerações. Ou conseguimos cooperação ou teremos problemas — lamentou o prefeito, que diz ter sido espinafrado por um homem que estava sem máscara em uma feira neste sábado e que não gostou de ter a atenção chamada pela falta do equipamento de proteção individual.
Em Santa Maria, no decorrer de uma semana, os pacientes de covid-19 internados em UTI passaram de nove para 18. Além disso, o número de pessoas com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em leitos de UTI subiu de 14 para 25.
Pozzobom valorizou o fato de mais sete leitos privados de UTI terem sido cadastrados no município. A partir de agora, ele afirma que irá concentrar esforços no cumprimento das restrições. Na cidade, segundo dados da SES, até as 21h deste sábado, eram 304 testes positivos para a covid-19, com sete óbitos.
— Vamos seguir rigorosamente as orientações técnicas. Nosso objetivo é salvar vidas. Lamentavelmente, tem de acontecer alguma coisa mais forte para a população se dar conta de que não é brincadeira — avalia Pozzobom.
A reportagem tentou contato com a prefeitura de Uruguaiana para repercutir a bandeira vermelha atribuída à região, mas as chamadas não foram atendidas. Todas as quatro zonas classificadas nesta faixa, de risco alto, precisarão de duas semanas de melhora consecutiva nos indicadores para poder voltar à cor laranja, com menos restrições.
Veja as cidades atingidas pela bandeira vermelha
Região de Santa Maria: Agudo, Cacequi, Capão do Cipó, Dilermando de Aguiar, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Formigueiro, Itaara, Itacurubi, Ivorá, Jaguari, Jari, Júlio de Castilhos, Mata, Nova Esperança do Sul, Nova Palma, Paraíso do Sul, Pinhal Grande, Quevedos, Restinga Seca, Santa Maria, Santiago, São Francisco de Assis, São João do Polêsine, São Martinho da Serra, São Pedro do Sul, São Sepé, São Vicente do Sul, Silveira Martins, Toropi, Unistalda, Vila Nova do Sul.
Região de Santo Ângelo: Bossoroca, Caibaté, Cerro Largo, Dezesseis de Novembro, Entre-Ijuís, Eugênio de Castro, Garruchos, Guarani das Missões, Mato Queimado, Pirapó, Porto Xavier, Rolador, Roque Gonzales, Salvador das Missões, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Borja, São Luiz Gonzaga, São Miguel das Missões, São Nicolau, São Pedro do Butiá, Sete de Setembro, Ubiretama, Vitória das Missões.