Um estudo do centro de Modelos Matemáticos de Doenças Infecciosas, feito com base na evolução da epidemia de coronavírus em Wuhan, mostrou que as medidas de isolamento social, como fechar escolas e lojas e reduzir a circulação de pessoas, apressaram o controle do vírus na cidade chinesa.
Chamadas de "histeria" pelo presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento na noite de terça (24), as restrições podem reduzir em até 92% a gravidade que a epidemia teria em meados deste ano se nada houvesse sido feito, e em 24% a gravidade esperada para o final do ano, calculam os cientistas da London School of Hygiene and Tropical Medicine. No pronunciamento, Bolsonaro afirmou que a mídia estava exagerando a situação com base na situação da Itália, que é diferente do Brasil.
Segundo o estudo, embora estimativas precisas variem de país para país, "as intervenções permitiram que (a província de) Hubei e outros países asiáticos evitassem uma situação ainda mais grave". Ainda consta que "responsáveis por políticas públicas devem levar isso em conta para reduzir o impacto e a transmissão do coronavírus e o esgotamento de seus sistemas de saúde".
Epicentro da pandemia, Wuhan começa nesta quarta (26) a voltar à atividade normal, cerca de quatro meses depois do surgimento dos primeiros casos da doença. Desde que foi dado o alarme, governos local e nacional tomaram várias medidas de contenção. O exame de todos os passageiros que entravam foi seguido pela proibição total de viagens, em 23 de janeiro.
A restrição foi estendida a toda a província de Hubei três dias depois, numa quarentena que incluiu o fechamento total de escolas e a extensão do feriado do Ano-Novo chinês, para que os trabalhadores não voltassem ao trabalho. O governo proibiu eventos públicos e reuniões e determinou que as pessoas ficassem em casa.
Essas medidas alteraram significativamente a interação entre diferentes faixas etárias na China e a transmissão do coronavírus, na comparação com doenças de características semelhantes, dizem os autores do estudo. A proibição de viagens impediu a expansão da doença para outras regiões e atrasou o aparecimento de casos em outras áreas, dando mais tempo para que os sistemas de saúde se recuperassem.
Na província de Hubei, o confinamento reduziu a velocidade de transmissão, permitindo o controle da pandemia. Com 81.218 casos confirmados até esta quarta, a China registra 3.281 mortes, menos da metade das que já ocorreram na Itália. Recuperaram-se 73.650 doentes, e 1.399 estão hoje em estado grave.
O trabalho do CMMID mediu o impacto das medidas adotadas em Wuhan comparando a evolução dos casos na cidade com a que seria esperada caso nada houvesse sido feito. "O controle da circulação das pessoas foi efetivo para reduzir a magnitude do pico da epidemia e para atrasar a fase mais crítica", concluem os pesquisadores.
Segundo eles, medidas como fechar escolas e lojas reduz o contato com desconhecidos, mudando a dinâmica de transmissão do vírus. Cálculos feitos em 200 simulações de evolução da epidemia mostram que o fechamento drástico de escolas e o prolongamento do feriado reduziram a taxa de contágio em todas as faixas etárias, com efeitos maiores entre crianças e idosos.