Saúde

Hábitos alterados

As mudanças de comportamento impostas pelo coronavírus em famílias e profissionais no RS

Ficar mais tempo em casa e não contar com vários serviços abertos tem levado muitas pessoas a lidarem com diversas adaptações. E algumas, talvez, venham para ficar

Guilherme Justino

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Jéssica Rebeca Weber

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Se ficar em casa para simplesmente descansar era o momento mais esperado depois de um dia de trabalho, a situação agora mudou. A pandemia de coronavírus e as medidas tomadas por governantes para evitar que a doença se dissemine muito rapidamente por aqui, sobrecarregando o sistema de saúde, fizeram com que a maior parte da população atendesse aos apelos de só sair de seus lares em caso de muita necessidade.

Com isso, as atividades realizadas no mundo lá fora parecem ter ganhado um gostinho especial.

A reclusão impõe diversas mudanças de comportamento, que têm muito a ensinar sobre criatividade, adaptação, empatia, parceria, solidariedade. E diversos desses novos hábitos, mais do que serem tomados como forma de passar o tempo em meio à quarentena, podem ter vindo para ficar.

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Convívio

Famílias estão mais próximas, convivendo mais. Empresas têm visto que o teletrabalho pode, sim, funcionar muito bem. Estudantes estão aprendendo a se concentrar melhor sozinhos ao assistir aulas online. Profissionais de Educação Física têm ensinado que não é preciso equipamentos de última geração e ambiente todo adaptado para que as pessoas se exercitem com regularidade. Tudo isso, passado o surto, tem condições de permanecer como grande aprendizado a ser mantido por anos e mais anos.

Talvez a principal das descobertas até agora tenha sido algo que não parece, assim, tão revelador, mas ganhou outra dimensão a partir do isolamento social: o quanto as pessoas de que gostamos são importantes, e como apreciamos tê-las por perto. Mesmo as possibilidades abertas pela tecnologia – com troca de mensagens, fotos, chamadas em vídeo, até jogos online em grupo para desopilar – não bastam para substituir o calor humano.

Em momentos como este, quem mora sozinho percebe que a companhia de seus entes queridos é importante, e quem habita em família ou entre amigos tem um tempo extra para aprimorar a relação.

— Estamos em família! Em nenhum momento da vida tivemos uma oportunidade como essa, só os quatro! Por tanto tempo e sem interferências externas na educação dos nossos filhos. Desde a alimentação até a ajuda a lidar com os sentimentos. Tem de ficar um ensinamento. Tem de ficar uma memória afetiva desse momento! – explica a odontopediatra Renata Franzon, 40 anos, referindo-se ao marido, o advogado Eduardo Fonyat, 42 anos, e aos filhos Júlia, 6 anos e Lucas, 4 anos.

Renata Franzon / Arquivo pessoal
Renata Franzon (D), com os filhos Júlia e Lucas e o marido, Eduardo Fonyat (E)

— As crianças se uniram mais, estão muito amigos, inventaram brincadeiras novas e reencontraram brinquedos que não usavam há tempos. Estamos dividindo tarefas e conseguindo mostrar para as crianças o valor de cada coisa que é feita por elas – conta Renata.

Mas nem tudo são vantagens nessa nova rotina. A secretária Luciana Cambruzzi Cortes relata que o filho Francisco, 4 anos, sente falta das atividades extra que costumava praticar, como tênis, judô e natação. Quer ver os colegas do colégio, os amigos. Casada com o pediatra Cléber Pinto Saffi, Luciana explica que o médico mantém a rotina de plantões, enquanto ela cuida do filho mais de perto e também das tarefas domésticas.

— Meu dia começa com os afazeres da casa, pois dispensamos a ajudante. Estou fazendo tudo, cuidando da casa, do Francisco, do consultório via telefone, das atividades da escola via aplicativos – lista Luciana. 

— O ponto mais difícil é perceber que não podemos aproveitar o que a nossa cidade tem, ficar longe de amigos e familiares.

Para Renata, essas mudanças representam um desafio para as famílias, especialmente aquelas com crianças mais novas.

— O mais difícil é manter a calma e a serenidade. Quem tem filho pequeno sabe que eles consomem todo o nosso tempo.

Isso sobrecarrega o emocional. Além de dar atenção, moderar as brigas e disputas pelos brinquedos, tem todas as tarefas domésticas. Tento relaxar e ter pensamentos positivos e me consolo quando escuto outras mães que estão em reunião por home office quase o dia todo ou que têm filhos com aulas domiciliares e precisam de atenção para fazer tudo isso ao mesmo tempo.

Luciana, mãe de Francisco, explica que as alterações de rotina também têm um lado bom: a nova percepção da vida em sociedade que tem tudo para continuar quando a pandemia passar.

— Vejo esse momento da quarentena como importante para darmos valor às coisas simples da vida: não ter pressa para fazer as coisas, viver um dia de cada vez. E notar que não precisamos de muito para sermos felizes — conclui ela.


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