Partículas de carbono negro, normalmente emitidas por escapamentos de veículos e usinas a carvão, foram detectadas em placentas, no lado voltado para o feto, disseram pesquisadores nesta terça-feira (17). A concentração de partículas foi maior nas placentas de mulheres mais expostas a poluentes no ar em sua rotina, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications.
— Nosso estudo fornece evidências convincentes da presença de partículas de carbono negro originárias da poluição do ar na placenta humana — disseram os autores.
Os resultados, acrescentaram, oferecem uma "explicação plausível para os efeitos prejudiciais à saúde da poluição desde o início da vida". Sabe-se que a poluição do ar tem impactos potencialmente devastadores na saúde das crianças.
O maior risco é de baixo peso ao nascer, o que por sua vez aumenta as chances de diabetes, asma, acidente vascular cerebral, doença cardíaca e uma série de outras condições. Mas a explicação biológica de como e por que a poluição do ar representa uma ameaça para os recém-nascidos intriga os médicos há muito tempo.
— O novo estudo lança alguma luz sobre isso, mostrando que a inalação de partículas de carbono negro pode se acumular na placenta — afirmou Christine Jasoni, diretora do Centro de Pesquisa em Saúde Cerebral da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, comentando o estudo.
Cientistas liderados por Tim Nawrot, da Universidade Hasselt, em Diepenbeek, Bélgica, afirmaram que "partículas de carbono negro são capazes de passar dos pulmões das mães para a placenta". Nawrot e sua equipe usaram imagens de alta resolução para examinar as placentas de 23 nascimentos a termo e cinco prematuros.
Mulheres que foram expostas a níveis mais altos de partículas de carbono negro — em média 2,42 microgramas por metro cúbico — apresentaram níveis significativamente mais altos de partículas na placenta do que dez mães expostas a um quarto dessa concentração. Criticamente, foram encontrados traços de carbono negro no lado interno da placenta, o que os coloca em contato direto com o feto em desenvolvimento.
Não há evidências, no entanto, de partículas de poluição no próprio feto, o que sugere que a placenta pode atuar como uma barreira às toxinas.
— Mas o carbono negro pode estar danificando a placenta — disse Jennifer Salmond, professora associada da Escola de Meio Ambiente da Universidade de Auckland, comentando as novas descobertas.
—A má função placentária pode explicar o baixo peso ao nascer que foi associado à poluição do ar em outros estudos — acrescentou.