Monstros comedores de cérebro são bem reais – eles espreitam em lagoas em grande parte dos Estados Unidos. Agora, os cientistas podem ter descoberto uma nova maneira de matá-los.
Minúsculas partículas de prata revestidas com drogas anticonvulsivas poderão um dia ser adaptadas para deter o Naegleria fowleri, um micróbio excepcionalmente letal que, entrando através dos seios faciais, se alimenta do tecido cerebral humano.
A pesquisa, publicada na revista "Chemical Neuroscience", mostrou que medicamentos anticonvulsivos vinculados à prata podem matar as amebas, poupando as células humanas. Os cientistas esperam que a descoberta estabeleça as bases para uma cura rápida.
"Essa é uma infecção desagradável, muitas vezes devastadora, para a qual não temos grandes tratamentos", disse o dr. Edward T. Ryan, diretor da divisão de doenças infecciosas globais do Hospital Geral de Massachusetts, que não esteve envolvido na pesquisa. "O trabalho está claramente nas fases iniciais, mas é uma abordagem interessante."
As infecções com essas amebas são raras, mas quase sempre fatais. Desde 1962, apenas quatro das 143 vítimas conhecidas nos Estados Unidos sobreviveram, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Mais da metade de todos os casos ocorreu no Texas e na Flórida, onde os organismos microscópicos prosperam na água morna das lagoas.
"O caso clássico é o menino de 10 anos que vai nadar no verão e começa a ter dor de cabeça alguns dias depois", disse Ryan. A alimentação das amebas provoca meningoencefalite – ou inchaço do cérebro e tecidos próximos – e muitas vezes é diagnosticada erroneamente.
"Em relação ao tratamento, os médicos normalmente tentavam de tudo", acrescentou ele.
Os pacientes geralmente recebem drogas antimicrobianas em doses extremamente altas para romper a barreira protetora do cérebro. Muitos sofrem efeitos colaterais graves.
"O maior desafio é encontrar uma droga que possa realmente atingir a região certa do cérebro", disse o dr. Ayaz Anwar, pesquisador da Universidade Sunway, na Malásia, que liderou o novo estudo.
"Precisamos de uma droga que possa enganar o corpo deixando-a passar – e sabemos que os remédios anticonvulsivos conseguem superar essa barreira."
Anwar e sua equipe a princípio trataram os micróbios com diazepam, fenobarbitona e fenitoína, três drogas anticonvulsivas já aprovadas pela Administração de Alimentos e Drogas dos EUA. As amebas se mostraram sensíveis.
Em seguida, os pesquisadores uniram os medicamentos a portadores microscópicos: partículas de prata de apenas 50 a 100 nanômetros de diâmetro, ou menos de um milésimo da largura de um fio de cabelo.
Em testes laboratoriais, cada uma das três combinações da droga com a prata diminuiu o número de amebas ao longo do tempo. O diazepam, em particular, foi pelo menos duas vezes mais eficaz quando combinado com a prata.
"Foi uma descoberta emocionante, certamente", contou ele.
Anwar disse que planejava testar a abordagem em modelos animais usando grilos, baratas e camundongos.
"É um primeiro passo importante na elaboração de possíveis tratamentos para uma condição difícil de tratar", disse o dr. Paul Sax, especialista em doenças infecciosas do Hospital Brigham and Women e da Escola de Medicina de Harvard. "Mas ainda está na fase da placa de Petri – há um longo caminho até a implementação."
Por Emily Baumgaertner