Em uma segunda-feira à tarde, seis alunos do ensino fundamental II e médio sentavam-se em torno de uma mesa. No quadro branco, uma psicóloga escreveu três letras: T-O-C.
— O que significa TOC? — perguntou ao grupo a psicóloga Avital Falk.
— Transtorno obsessivo-compulsivo — respondeu um menino tímido de 12 anos vestindo um blazer azul e gravata vermelha.
— Por que é considerado um transtorno? — perguntou a psicóloga.
— Porque ele está desajustando nossas vidas — disse Sydney, uma garota tagarela de 14 anos com longos cabelos ruivos.
Estes jovens têm TOC, uma doença caracterizada por pensamentos recorrentes e intrusivos e comportamentos repetitivos, ou outros problemas de ansiedade. Eles também são participantes de um novo programa de tratamento da Weill Cornell Medicine, em Nova York.
Pacientes com TOC normalmente vão à terapia uma vez por semana por uma hora ao longo de vários meses, mas este programa consiste em duas horas de reuniões em grupo três vezes por semana, podendo incluir até quatro horas adicionais de terapia semanal individual. Alguns pacientes completam o tratamento em apenas 15 dias.
O programa, que começou em 2016, faz parte de uma nova onda de programas de terapia intensiva para transtornos psiquiátricos. O Child Mind Institute em Nova York lançou um "acampamento" de dois dias para adolescentes com ansiedade social no ano passado. O Houston OCD Program, no Texas, realizou seu primeiro programa de tratamento de uma semana para adolescentes durante as férias de verão nas escolas locais.
Em Atlanta, a Universidade Emory está em seu terceiro ano de um plano de terapia de duas semanas para veteranos com transtorno de estresse pós-traumático, financiado pelo Wounded Warrior Project. Ofertas semelhantes para veteranos de guerra são disponibilizados pela UCLA Health, na Califórnia, Universidade e Centro Médico Rush, em Chicago, e no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston.
A modalidade está se popularizando em parte por causa de novas pesquisas que mostram que, tanto para adultos quanto para crianças, essa abordagem concentrada geralmente tem a mesma eficácia e, em alguns casos, é até mais eficiente que o tratamento espalhado por diversos meses. Uma meta-análise randomizada examinou artigos publicados no ano passado na revista Behaviour Research and Therapy e descobriu taxas de remissão de 54% para as crianças em terapia cognitivo-comportamental intensiva para transtornos de ansiedade, e 57% para aqueles em tratamento extensivo padrão, uma diferença que não é estatisticamente significativa.
Apenas 2,3% dos pacientes que fizeram a terapia concentrada largaram o tratamento, em comparação a 6,5% que faziam o tratamento padrão. Na Emory, apenas 5% dos veteranos no programa de tratamento intensivo de duas semanas deixaram-no antes do término, de acordo com um artigo publicado em outubro do ano passado.
Outra meta-análise publicada em 2015 no Journal of Obsessive-Compulsive and Related Disorders, descobriu que pacientes com TOC que foram tratados com terapia intensiva tiveram uma melhora maior em comparação àqueles que se trataram de forma tradicional, com uma ou duas sessões por semana. Em um acompanhamento posterior de cerca de três meses, ambos os grupos tinham o mesmo nível de melhora.
Os tratamentos intensivos parecem funcionar melhor para transtornos relacionados à ansiedade. Geralmente consistem de terapia cognitivo-comportamental, na qual pacientes se expõem repetidamente a situações que têm medo.
Apoiadores da nova abordagem disseram que, embora possa envolver um número semelhante de horas totais à terapia semanal, o alívio é mais rápido. Thomas H. Ollendick, professor de psicologia na Virginia Tech, que foi pioneiro no tratamento de um único dia contra fobias e também estudou a terapia cognitivo-comportamental de uma semana para TOC, disse que pode ser crucial para pessoas cujos distúrbios as impedem de frequentar a escola ou o trabalho.
Com o tratamento concentrado, Ollendick disse:
— Você não tem uma semana no meio para desaprender o que viu na sessão anterior ou mesmo ter experiências adicionais que podem levá-lo a pensar demais e entrar em uma espiral de medo.
O formato concentrado permite que os terapeutas forneçam tratamento bem estruturado, baseado em pesquisas para mais pessoas, uma vez que pode facilitar para pacientes que moram longe o acesso à terapia de alta qualidade, já que duram apenas uma ou duas semanas, disse Donna B. Pincus, diretora do Programa de Tratamento de Fobia e Ansiedade para Crianças e Adolescentes da Universidade de Boston, que realiza tratamentos intensivos que duram de cinco a oito dias para o transtorno do pânico, o de ansiedade por conta de separação e as fobias.
Mesmo os pacientes que vivem nas proximidades podem achar mais fácil tirar uma semana de folga, ao invés de lidar com a logística da terapia semanal.
—As pessoas se retiram de suas vidas cotidianas durante duas semanas – elas podem se desligar dos problemas rotineiros. Realmente entram em uma espécie de bolha para realizar o tratamento — disse Barbara O. Rothbaum, professora de Psiquiatria e Ciências Comportamentais na Escola de Medicina da Universidade Emory.
A abordagem intensiva também tem suas desvantagens. O preço médio para o programa em um feriado de maio em Houston era US$2,5 mil por semana, por exemplo. Muitos deles não aceitam convênio médico. Às vezes os convênios chegam a reembolsar uma pequena parcela do tratamento ou podem exigir que os pacientes provem primeiramente que a terapia menos intensiva não funcionou.
Os pacientes também precisam estar prontos e dispostos a avançar rapidamente para o trabalho de exposição, observou Pincus, da Universidade de Boston. Alguns pacientes utilizam as terapias concentradas para iniciar o tratamento ou como complemento à terapia de longo prazo.
Christina Uzzi, 14 anos, de Fair Haven, Nova Jersey, geralmente faz terapia semanal via Skype com seu psicólogo do Child Mind Institute. Participou também de dois dias do "acampamento" de ansiedade social do mesmo instituto, em agosto do ano passado, antes de começar a oitava série em uma nova escola.
Os dias longos deram várias horas para que praticasse coisas difíceis para ela, como pedir direções a estranhos e falar em público, com a ajuda do seu terapeuta e mais um grupo de outros adolescentes com medos semelhantes. O acampamento "foi um grande impulso de uma só vez. Acho que a capacidade de ela bater um papo com as pessoas e pedir algo no restaurante realmente melhorou", disse sua mãe, Jennifer Uzzi.
Buriss Detrice, veterana de 52 anos, passou por duas semanas do programa de tratamento contra estresse pós-traumático da Emory com um grupo de colegas veteranos. Disse ter ajudado a continuar com a terapia e se sentir motivada. Todos os dias, seu grupo se reunia para um café antes da sessão.
— Era quase como se eu tivesse que estar em formação às 9h da manhã. Tinha que ir ou eles iriam me buscar — disse Burriss, que desenvolveu estresse pós-traumático depois que um explosivo caseiro atingiu um veículo na frente do carro que ela estava no Iraque, em 2009.
Vários pesquisadores nos Estados Unidos apontam para o trabalho de cientistas na Noruega, liderados por Gerd Kvale e Bjarne Hansen, como a fonte dessa onda americana de tratamento intensivo e concentrado. Os terapeutas noruegueses já trataram mais de 700 pessoas com TOC, transtorno de pânico e ansiedade social com um protocolo de quatro dias.
Os pacientes se reúnem em pequenos grupos, mas cada um trabalha com seu próprio terapeuta. O núcleo do tratamento é de dois dias de 8 a 10 horas de "exposição e resposta preventiva", em que os pacientes reconstroem ativamente as situações que os induzem a ansiedade e evitam se engajar em qualquer comportamento que a reduza.
Pela manhã, os terapeutas vão com os pacientes até suas casas e passeiam por todo entorno de sua comunidade para que possam encontrar o maior número possível de situações que disparem a ansiedade, um método que aumenta a eficácia da terapia. Eles continuam a se expor às situações por conta própria durante tarde e noite.
O tratamento parece ter um impacto de longo prazo. Em um estudo publicado este mês na revista Cognitive Behaviour Therapy envolvendo 77 pessoas com TOC, 53 delas (ou 69 %) estavam recuperadas do transtorno quatro anos após o tratamento. Apenas uma desistiu da terapia.
Antes do tratamento, 70% dos pacientes foram classificados com gravidade elevada de TOC. Quase três quartos tinham feito terapia. Cerca de 42% tomavam antidepressivos. O estudo não tinha um grupo de controle.
No programa promovido pela Weill Cornell, os participantes, com idades entre 10 e 15 anos, são expostos a práticas em uma aula de simulações. A psicóloga lhes dá a tarefa de induzir a ansiedade a partir de seus próprios gatilhos individuais. Ela disse ao menino de 12 anos usando a gravata vermelha e blazer – que fica paralisado pelo medo de não agir "direito", achando que algo ruim acontecerá – para "se portar de maneira inadequada e rude. Coma no meio da aula fazendo uma enorme bagunça".
Avital também instruiu uma menina de 12 anos de idade a escrever sobre o que ela fez em seu último aniversário. A menina tem comportamentos compulsivos envolvendo a escrita e muitas vezes tem que apagar e reescrever tudo, algo que causa problemas escolares.
Para uma outra, de 10 anos e que usa aparelho, o gatilho do TOC é não saber certas coisas; assim, a terapeuta instruiu outras crianças a lhe dizerem algo secreto e estúpido, que a menina não pudesse ouvir.
Enquanto a terapia acontecia, Avital insistiu para que o menino tirasse a gravata e o blazer. Ele estava comendo uma laranja. "Zoa da minha cara", encorajou uma criança de 14 anos que passou a maior parte da sessão rabiscando um papel.
A menina com a compulsão pela escrita largou sua caneta e lamentou. "Ai meu Deus! Parece um 'I' com um chapéu", disse ela, olhando para o papel.
Avital deu uma olhada.
— Eu posso entender perfeitamente o que você escreveu. Deixe assim que vai ser melhor para você um dia — disse ela.
Antes que as crianças saíssem, a psicóloga escreveu uma nova tarefa de casa em uma ficha colorida para cada um deles, mais situações de exposição para fazer antes da próxima reunião do grupo, no dia seguinte.
Por Andrea Petersen