Morador de Eldorado do Sul, Sandro Montassieur ainda não sabe se terá uma casa para voltar assim que a água baixar. Artista por hobby, ocupa seu tempo em um abrigo da Rua Dona Alzira, no Sarandi, em Porto Alegre, escrevendo poemas e pintando um quadro em homenagem à Igreja Brasa Zona Norte, onde está abrigado.
— A água lá em casa passou do telhado. Perdi tudo, mais de 100 poemas que deixei em cima da geladeira, pensando que iria salvar. Passou tudo — disse o homem que é um dos 150 abrigados do local.
Ao avistar a reportagem, puxou uma pasta com dezenas de folhas de caderno arrancadas. Em cada uma, um poema. O dedicado à enchente, fez questão de declamar (veja vídeo).
"Desigualdade social
Onde o rico e o pobre se encontram
Dentro de um desastre ambiental
O pobre reunido em barracões, alojamentos, nervos à flor da pele
Estão que não se aguentam
Por pouca coisa se enfrentam..."
Chamado de poeta pelos demais abrigados e voluntários, Sandro é enfático ao pronunciar seu sobrenome Montassieur.
— É francês, precisa fazer biquinho pra falar — brinca.
Situação do abrigo
No abrigo da Brasa Zona Norte, todos estão dormindo em camas doadas.
— Não temos mais ninguém dormindo em colchão no chão — conta o pastor Leandro de Lima Santos, responsável pelo local.
Segundo Santos, o local deve permanecer aberto por tempo indeterminado para cumprir um compromisso assumido com os abrigados. A preocupação aumenta conforme outros abrigos vão fechando.
— A nossa previsão de trabalhar com o pessoal e continuar servindo o nosso povo, o tempo que for necessário nós vamos continuar com a nossa igreja aberta, servindo a comunidade. Tudo que eles têm recebido aqui dentro, como roupas, colchões, malas vão levar e nossa ideia é ajudá-los a reconstruir a vida quando saírem daqui — finaliza Leandro.
Além de auxiliar os abrigados, o local ainda busca atender famílias que estão desalojadas, em casas e amigos ou familiares. A igreja também é um ponto para doação de mantimentos, como roupas, alimentos, medicamentos e leites especiais.