O aumento no nível do Guaíba, nas últimas horas, alagou ruas e terrenos na região das Ilhas, em Porto Alegre, deixando moradores trancados em casa na manhã desta quinta-feira (7). Nas residências mais baixas, a correnteza do rio formado nas vias chegou à soleira das portas. Por ora, nenhuma família precisou ser removida na região.
— Criei seis filhos aqui. A situação é criminosa — define Valmir Verissimo da Silva, 58 anos, morador da Rua D, na Ilha Grande dos Marinheiros.
Em vielas da Ilha do Pavão, material que seria vendido para reciclagem foi carregado e boiava entre as palafitas, construídas para suportar a rotina de enchentes no local.
Na terça-feira (5), a medição do Guaíba apontava 1,68 metro no Cais Mauá — após bater 2,14 metros no dia anterior. Às 9h desta quinta (7), a marca já alcançava 2,29 metros, na cota de inundação estimada pela Defesa Civil para o bairro Arquipélago.
— Ontem a água estava uns 50 metros pra frente e agora está aqui já. Tenho medo de que ela chegue a minha casa — diz Gene Machado, 48 anos.
Remando um barco pelo jardim inundado, o pedreiro Antônio Carlos Almeida da silva, 56 anos, repete o coro de quem vive na Ilha das Flores.
— É sempre a mesma coisa.
Na Rua dos Pescadores, onde ele vive com a esposa, há uma sequência de ao menos 20 casas onde os moradores estão, literalmente, ilhados. Paralela à BR-290, a via tomada pela água contrasta com a pista que está sendo construída para dar sequência ao trânsito gerado pela nova ponte do Guaíba. Sobre um barranco, a estrada em obras fica cerca de dois metros acima do nível da degradada rua de chão batido.
Apesar de não ter diminuído em nenhum dia nesta semana, o coordenador da Defesa Civil em Porto Alegre, coronel Evaldo Rodrigues de Oliveira, acredita em estagnação no nível das águas.
Trator transporta moradores
Afastado da BR-290, o condomínio Píer Jacuy, na Ilha da Pintada, decidiu ter um transporte próprio para facilitar o acesso ao espaço, constantemente interditado para veículos pequenos devido às cheias. Uma carroceria de madeira puxada por um antigo trator realiza viagens a cada meia hora para buscar e levar trabalhadores e moradores das 30 residências.
— É gratificante poder ajudar o pessoal que trabalha com a gente. Tem até morador que deixa o carro perto da ponte e vem de trator — conta o condutor do veículo, Baltazar Gomes da Silva, 40 anos.
Glaci da Silva, 57 anos, é doméstica em uma das casas e utiliza a alternativa para chegar até o trabalho.
— Já estou tão acostumada que estanho quando a água não vem. O ruim mesmo é que dá rato e até cobra, que saem do ralo.