Quem dependia do Albergue Municipal, em Porto Alegre, foi buscar novos endereços para pernoitar nesta segunda-feira (2). Isso porque foi o primeiro dia de operação das duas novas casas para pessoas em situação de rua disponibilizadas pela prefeitura. O antigo espaço, que ficava no bairro Floresta e era gerido pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), fechou as portas no domingo (1º). Agora, a prefeitura repassou a gestão para uma organização da sociedade civil, a Associação Projeto Restaurar. A entidade já administra casas em Alvorada e Viamão.
Nesta segunda, antes da abertura, frequentadores já aguardavam na fila desde o meio da tarde. O acolhimento teve início às 19h, com a presença do prefeito Nelson Marchezan, que foi conferir os trabalhos de perto em uma das novas unidades, instalada no mesmo bairro onde ficava o Albergue Municipal.
— Importante ressaltar que estamos descentralizando o serviço, oferecendo vagas também na Zona Norte. Além disso, temos confiança no trabalho da entidade parceira, que já atua nesta área há anos — apontou Marchezan.
Ao deixar o local, o prefeito foi cercado por moradores contrários à instalação da unidade no bairro Floresta. Junto ao coordenador do local, Paulo Rodrigues, Marchezan ouviu os moradores. Uma das principais reclamações era em relação à formação da fila na rua, que se estendia até a entrada de prédios próximos. Segundo o coordenador do albergue, houve uma mudança no sistema de acolhimento. Agora, os moradores têm a vaga garantida para o dia seguinte.
— Não terá fila todos os dias. Eles vêm e, como já estão cadastrados, entram direto. Essa garantia de vaga valerá por três meses, uma mudança em relação a como era no Albergue Municipal — explicou o coordenador.
Acréscimo
A "casinha", alcunha pela qual os frequentadores chamavam a unidade municipal, atendia 120 pessoas. Os novos espaços foram divididos em dois bairros. Além do bairro Floresta, na região central, também há uma casa no bairro Vila Jardim, na Zona Leste. Cada unidade recebe até 75 pessoas. No total, são 150 dormitórios disponíveis, um acréscimo de 30 vagas em relação à modalidade anterior.
Como o Diário Gaúcho mostrou no final de julho, a ideia da administração pública era que o processo de abertura dos novos albergues fosse concluído ainda em agosto. Entretanto, o prazo foi adiado para o início de setembro. Diretor-presidente da Restaurar, Ricardo Poganski, conta que os últimos ajustes ainda ocorreram durante a segunda-feira, com a chegada dos beliches e colchões, reaproveitados do Albergue Municipal.
— O importante é que conseguimos receber todos bem. A nossa ideia é fazer com eles se sintam em casa, que tenham aqui o seu cantinho — projeta Ricardo.
Antes da abertura oficial, equipes da prefeitura fizeram uma visita técnica nos dois novos locais. No Albergue Acolher 2, na Rua 7 de Abril, no bairro Floresta, a vistoria foi às 17h30min. Mais tarde, às 19h, a equipe esteve no Albergue Acolher 1, na Rua João Simplício, no bairro Vila Jardim.
Conforme a Fasc, a Restaurar recebeu R$ 60 mil para a implantação dos dois albergues. Além disso, haverá um repasse mensal de R$ 180 mil para administrar os dois pontos, que funcionam diariamente, das 19h às 7h. Além do dormitório, é oferecido aos frequentadores jantar, café da manhã e banho.
Primeiros usuários aprovaram
Na tarde desta segunda, o Diário Gaúcho acompanhou a chegada dos primeiros usuários ao albergue do bairro Floresta. Depois de passarem por uma triagem, eles foram reunidos em duas turmas, onde ouviram a apresentação das regras para permanência e convivência na casa. Depois, foram encaminhados para o banho, o jantar e, por fim, aos dormitórios. Durante a entrada dos frequentadores, homens ainda trabalhavam nos últimos ajustes da casa, como a colocação de marcos em algumas portas, além da montagem dos mobiliários vindos do Albergue Municipal.
Uma das primeiras albergadas a acessar os quartos foi Maria Edilamar Silva Flores, 43 anos. Durante o dia, ela faz aulas de violino, rádio e fotografia no Associação Cultural Beneficente Ilê Mulher, no bairro Santo Antônio. Nas noites anteriores, ia para o Albergue Municipal. Ontem, foi para o novo local no bairro Floresta.
— Estou em albergues há três anos. Gostei do novo espaço, me senti bem recebida — contou Maria.
O coordenador do espaço do bairro Floresta também apresentou um dos quartos ao pintor aposentado Augusto Gonçalves, 73 anos. Frequentador da antiga "casinha", ele também aprovou o quarto onde foi alocado:
— Está bom aqui. Foi tranquilo de chegar e a triagem foi rápida.