Com um veículo "articulado" — dois carrinhos de supermercado amarrados por um arame —, o ex-bancário Breno Moreno, 62 anos, ganha a vida recolhendo o que é descartado nas ruas de Porto Alegre. Há um ano atuando como catador de material reciclado, diz viver bem com a sua renda.
— Ganho uns R$ 20 por dia e vivo bem. Não bebo, não uso drogas, e o lanche aqui no Centro é barato. Ainda tem quem ajuda a gente — conta, com um copo de café preto nas mãos.
A solidariedade descrita por Breno parte de Felipe Carvalho, vendedor de lanches na Avenida Borges de Medeiros.
— Da para ver que é uma pessoa diferenciada, por isso sempre dou café pra ele — explica o ambulante.
Até o ano passado, Breno vivia sob o conforto de um teto: um apartamento na Avenida João Pessoa, na região central da Capital. O fim do casamento, conta, veio acompanhado da perda do emprego.
— Trabalhei 15 anos em um banco, passava o dia contando dinheiro. Agora é difícil chegar na fila do Sine sem nada no bolso e conseguir emprego — afirma.
O catador diz que o trabalho é muito bem recebido por quem teve mais sorte que ele na vida profissional:
— Muita gente elogia, entende que recolher lixo é melhor para o planeta. Uma vez me deram "50 pila", assim, dizendo que eu fazia um trabalho bonito. Em Porto Alegre, lixo seco não fica na rua, sempre tem alguém pra recolher.
Breno dorme próximo ao Mercado Público e utiliza como "estratégia" visitar alguns restaurantes no início da tarde.
— Alguns restaurantes acabam colocando comida fora ao invés de dar na nossa mão. Eu entendo, a fiscalização é mortal contra eles. Mas sempre têm os que ajudam, e dão até comida quente. Como tão bem quanto quem tem casa.
Mesmo com histórias felizes, revela o sonho: ter de novo uma casa.
— No verão eu durmo com a luz da lua. É bom. Mas no inverno faz muita falta um teto — finaliza, a caminho do carrinho de comida para finalizar o café da manhã solidário.