O uso do aparelho de telefone celular ao volante é a terceira infração que mais gera multas no trânsito de Porto Alegre. O levantamento é da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Em média, 128 condutores são multados todos os dias na Capital devido a esse tipo de irregularidade.
Nos seis primeiros meses deste ano, foram mais de 23,1 mil multas, um aumento de 40% em relação ao mesmo período de 2017. Segundo a EPTC, sanções desse tipo representam até 6% do total na cidade.
De acordo com o diretor de operações da EPTC, Fábio Berwanger, manusear o celular ao volante gera infração gravíssima. Ele explica que o fato de o motorista estar parado em uma sinaleira, por exemplo, não significa que está fora do trânsito:
— Isso é infração de trânsito. O GPS, o Waze, deve ser usado quando o veículo está estacionado. Parado em congestionamento constitui sim estar em trânsito. Isso é uma parada momentânea. Assim como usar o celular no semáforo. A pessoa tem que estar com todos os seus sentidos para o carro. Tem que estar atento. Quando o trânsito está lento, ocorrem a maioria dos acidentes de pequena monta.
Além do risco de acidentes, usar o telefone enquanto dirige pesa no bolso. Falar ao celular utilizando fones de ouvido, por exemplo, gera uma infração média (multa de R$ 130,16). Mas o principal motivo de punição é o manuseio do celular ao volante. O delito é considerado gravíssimo (multa de R$ 293,47). Em todo o Rio Grande do Sul, foram registradas mais de 87 mil multas por uso do celular ao volante no último ano, segundo dados do Detran-RS.
Uma das três principais causas de acidente no país, diz estudo
A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) aponta que o uso do telefone ao volante está entre as três principais causas de acidente no Brasil, junto ao excesso de velocidade e ao consumo de bebida alcoólica.
Para o médico especialista de medicina de tráfego e acidentes e diretor científico da Abramet Ricardo Helege, os aprimoramentos do smartphone aumentam drasticamente os níveis de distração.
— O uso do aparelho reduz a tua atenção periférica e aumenta a tua distração. E não aumenta somente a distração visual, mas também física e, principalmente, a mental. É um problema mundial — afirma.
Helege diz que, em muitos casos, não há como isolar uma única causa para o acidente,mas acrescenta que as distrações por utilização do celular gera consequências diretas nos acidentes.
De acordo com estudos publicados pela Abramet, motoristas demoram de oito a nove segundos para atender a uma chamada telefônica — isso inclui ouvir a chamada, localizar o celular, pegá-lo, desbloqueá-lo e atender à chamada. Andando a 80 km/h, por exemplo, o motorista vai percorrer quase duas quadras desatento em relação ao trânsito.
“Não temos o que fazer”, diz motorista de aplicativo
Quem trabalha pra lá e pra cá levando pessoas todos os dias considera imprescindível usar o telefone celular durante o trabalho. O desenvolvimento dos aparelhos de GPS e a criação de um novo mercado com aplicativos para conectar motoristas e passageiros faz com que o uso do telefone seja uma ferramenta no ofício. Muitos motoristas ficam sem saber o que fazer.
O motorista de aplicativo Charles Rosa já foi multado duas vezes por uso do celular ao volante em Porto Alegre. Ele diz que tentou mudar os hábitos.
— No cotidiano, é muito complicado. A gente fica sempre naquela dúvida: será que alguém vai ver? Será que posso ser multado? A gente sabe que é errado. Mas parar o carro em um lugar permitido para manusear o celular é algo impraticável. É uma sensação difícil porque a gente está sempre nesse impasse, sempre na iminência de uma nova multa — conta.
O motorista admite que em muitas situações não tem outra opção que não utilizar o telefone. Conforme ele, manusear o aparelho torna-se importante para alterar rotas e redefinir destinos.
Segundo a EPTC, os agentes de trânsito de Porto Alegre estão buscando fazer ações educativas para conscientizar os motoristas sobre o risco do uso do aparelho na direção. O órgão diz que distribui um número muito pequeno de multas em relação ao total de infrações do gênero cometidas pelos motoristas.