Um caso inusitado chamou atenção na madrugada desta quarta-feira (15), na zona sul de Porto Alegre. Acostumados a atender a ocorrências de acidentes, agentes da EPTC foram chamados por volta das 2h30min porque um cervo estava caminhando em plena Avenida Otto Niemeyer, uma das vias mais movimentadas da região.
Próximo à Rua Teresa Cristo, no bairro Tristeza, moradores e motoristas avistaram o animal e fizeram o contato, inicialmente, com o Corpo de Bombeiros e a Brigada Militar. Em seguida, foi solicitada a presença de um caminhão da EPTC para recolher o animal.
O cervo estava machucado na mandíbula e bastante assustado. Ele foi capturado e levado até o abrigo para animais, no bairro Lami — segundo o chefe da equipe de veículos de tração animal da EPTC, é a primeira vez que essa espécie é encontrada pelo grupo na cidade.
— O cervo está com um corte na mandíbula, mas não corre risco. O nosso abrigo não possuiu estrutura para abrigar animais silvestres, então amanhã ele deve ser levado pelo Batalhão Ambiental da Brigada Militar para um local adequado — explicou Gilberto Machado Fonseca.
Um veterinário fez uma avaliação preliminar durante a manhã. Apesar do corte na mandíbula, o cervo está em boas condições de saúde — movimenta-se e se alimenta normalmente. Está isolado em uma das baias do abrigo, onde hoje residem 13 cavalos e um pônei. Na quinta-feira, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente deve fazer novos exames e determinar para onde o cervo será levado.
Ainda não há informações sobre onde o animal surgiu. Segundo Fonseca, uma possibilidade é de que o cervo tenha sido criado em cativeiro.
— É longe de qualquer hábitat natural dele. Nossa impressão é que alguém o pegou filhote e mantinha em cativeiro, até porque nem no nosso perímetro rural temos histórico desse animal — afirmou.
Conforme o veterinário Claudio Giacomini, trata-se de um cervo-axis, espécie natural de florestas da Índia, Sri Lanka, Nepal, Bangladesh e do Butão. Por esse motivo, o animal é considerado exótico na fauna brasileira.
A espécie foi trazida à Argentina e ao Uruguai décadas para ser abatida em fazendas de caça. Ao longo do tempo, porém, exemplares conseguiram se reproduzir ou escapar, e foram parar em lugares mais distantes. Para o profissional, o comportamento abatido do cervo encontrado na zona sul de Porto Alegre pode significar cansaço após uma longa caminhada ou uma adaptação à convivência com humanos. Ele acredita que o animal deve ter entre três e quatro anos de idade.
—Cada um dos chifres corresponde a mais ou menos um ano de idade. Esse costuma ser um animal arredio. Para estar assim, comendo comida na mão de alguém, é possível que tenha sido criado em alguma residência. Como é exótico, a legislação brasileira não tem muita ingerência —comenta.