Ele mal chega a ser um idoso, mas terá de receber cuidados de um ancião castigado pelo tempo e pela falta de atenção para manter-se firme. Com menos de 60 anos, o monumento O Laçador precisará deixar seu sítio para ser tratado. Esse foi o diagnóstico do restaurador francês Antoine Amarger, que analisou a estátua em março, e cujo resultado foi divulgado nesta segunda-feira, em Porto Alegre.
A avaliação do especialista, que já trabalhou nos museus Louvre, Picasso, Matisse e Rodin, indicou a presença de fissuras, problemas estruturais, água, vegetais e insetos no monumento. Segundo a arquiteta e restauradora Verônica Di Benedetti, que acompanhou os trabalhos, as múltiplas avarias representam um risco difícil de medir:
– Uma coisa é certa: ele tem problemas e precisa ser tratado. Pode ser que fique lá mais 10 ou 20 anos e nada aconteça, mas pode ser que em dois ou três anos, ocorra uma ventania e seja danificado. É uma intervenção preventiva. Enquanto estiver assim, continuará se deteriorando – alerta.
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Primeiro, o Laçador terá de ser removido do local deitado, para evitar novos danos. Depois, começa a intervenção propriamente dita. O preenchimento atual, de argamassa, deverá ser retirado para que sejam soldadas as fissuras – as mais evidentes estão no pescoço, em um dos braços e nas pernas. Para não sobrecarregar o já cansado pé direito do gaúcho, que suporta a maior parte do peso da estátua e onde foram detectados os primeiros problemas, o monumento deve receber uma estrutura mais robusta, com vigas e colunas em aço inoxidável. Por fim, uma pátina química será elaborada para o acabamento, tornando as cicatrizes imperceptíveis.
Ainda não se sabe quanto a operação preventiva vai custar nem quanto tempo de "internação" será necessário para que o Laçador seja recauchutado. Responsável pelo projeto Resgate do Patrimônio Histórico – Monumento Laçador, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) aguardará pelo aval do Conselho do Patrimônio Histórico Cultural (Compahc) para dar continuidade aos trabalhos. A boa notícia em tempos difíceis é que, provavelmente, a prefeitura não terá de desembolsar nada para acabar com o sufoco do Laçador: o Sinduscon dispõe-se a buscar parcerias para levar o projeto adiante.
– Estamos disponíveis e decididos a buscar recursos e dar os remédios que o monumento precisa – disse o presidente da entidade, Zalmir Chwartzmann.
Há inclusive profissionais capacitados para realizar o procedimento. Durante a estadia de Antoine Amarger no Brasil, o restaurador especializado em estruturas metálicas instruiu 15 profissionais de diferentes estados para realizar procedimentos como os necessários ao Laçador. A prefeitura sinalizou que não deve impor obstáculos à continuidade do trabalho de conservação de um dos mais emblemáticos monumentos da cidade:
– Queremos tornar isso viável. Tem de passar pelo Compahc, mas isso deve ser muito rápido, porque temos total confiança no trabalho que foi feito – disse o coordenador da memória cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Felipe Pimentel.
Criado pelo artista Antônio Caringi, O Laçador foi inaugurado em 20 de setembro de 1958. O tradicionalista Paixão Côrtes, um dos fundadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), serviu de modelo ao monumento, que mede 4m45cm e pesa 3,8 toneladas.