Há pelo menos 10 pontos comerciais com as portas fechadas ao redor da Trincheira da Cristóvão Colombo, obra paralisada em Porto Alegre há meses. Farmácia, padaria, galeteria, lojas de pneus, de móveis, de produtos infantis e outros tipos de estabelecimento deixaram a região – um dos motivos seria o início dos trabalhos das máquinas no limite dos bairros Auxiliadora e Higienópolis, há três anos. A passagem sob a Terceira Perimetral era uma das soluções de mobilidade previstas para a Copa 2014. Os empresários que ficaram precisaram buscar alternativas para manter o negócio.
– A partir do momento que a obra começou, houve uma redução muito grande de movimento. O comércio foi fechando, e tivemos que investir em redes sociais e outros tipos de projetos porque o público transeunte perdemos completamente – conta a farmacêutica Beatriz Deppe, 63 anos.
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Indignada com as obras estagnadas tão perto do fim – 85% dos trabalhos foram executados –, a empreendedora queixa-se da falta de iluminação e de aumento na sensação de insegurança. Ela conta que duas funcionárias tiveram os carros arrombados recentemente. Cláudio Guarnaccia, 53 anos, que mora na região, concorda:
– Hoje, temos praticamente um breu à noite. Tu não encontras mais pessoas pela rua.
O servidor público acredita que as dificuldades no acesso ao comércio da região somaram-se à crise para levar ao fechamento de boa parte dos estabelecimentos e lamenta que isso terminou com "vida de bairro" que havia no local. A professora aposentada Marta Barbosa dos Santos, 71 anos, lembra com saudades da época em que bastava sair do seu prédio para encontrar pães quentinhos ou comprar seus remédios.
– Aqui, o comércio praticamente parou, ficou tudo mais longe pra nós – lamenta a moradora.
Marta reclama ainda da sujeira e do pó, e há moradores que se queixam inclusive de esgoto a céu aberto junto à obra. Enquanto as duas alças laterais de acesso da trincheira foram liberadas no ano passado no lado em direção ao Centro, na parte da trincheira em direção ao bairro ainda não há fluxo de veículos.
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), a obra está parada em função de atraso nos pagamentos – a dívida é de R$ 256 mil, e o saldo a pagar, de cerca de R$ 5,5 milhões. Quando o município tiver verba disponível e puder retomar os trabalhos, ainda serão necessários seis meses para terminá-los, fundamentalmente no lado do bairro. Falta executar a pavimentação nas alças laterais, os muros de flexão, a conclusão de aproximadamente 10% da pavimentação em concreto da passagem subterrânea, a execução do alargamento viário da Cristóvão Colombo entre as ruas Honório Silveira Dias e Luzitana, além da sinalização definitiva e da iluminação pública.
O contrato foi assinado em agosto de 2012, e a ordem de início das obras foi dada em março de 2013; em julho do mesmo ano, começaram os desvios no trânsito. As obras só tiveram início em julho de 2014.
Em pacote de projetos enviado em abril, a prefeitura pede autorização do Legislativo para fazer empréstimo de até R$ 120 milhões para retomar as obras de mobilidade urbana previstas para a Copa.