Mais árduo do que nadar de poncho. Mais complicado do que dormir de espora sem rasgar o lençol. Fica nesse nível de dificuldade conseguir manter a dieta ao visitar o Acampamento Farroupilha. Seja na praça de alimentação ou nos piquetes, há um cardápio variado para se esbaldar no café da manhã, no almoço, no lanche e na janta sem sair do Parque da Harmonia.
– A Semana Farroupilha ainda vai acabar comigo. Tem tanta coisa interessante que a gente não quer perder nada – afirma a policial rodoviária federal Carine Martins, 38 anos.
Além de saborear, também é possível participar do projeto Turismo de Galpão e aprender a fazer churrasco, arroz carreteiro e até iguarias mais inusitadas da cultura gaúcha, como paçoca de pinhão. Parte das oficinas de comida é gratuita, e o valor máximo cobrado é de R$ 20. As inscrições são realizadas no Espaço de Hospitalidade, perto do Centro de Eventos do Harmonia.
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Acampamento Farroupilha lota no primeiro fim de semana
Na tarde de segunda-feira, a reportagem caminhou pelo Acampamento Farroupilha em busca de alguns dos quitutes mais procurados, pegando também dicas dos cozinheiros.
Bolinhos de chuva da dona Graça
No Piquete Lendas do Sul, Maria da Graça Spindola, 61 anos, chega a vender, por dia, mais de 500 bolinhos de chuva – que de "inhos" não têm nada. Já faz quase duas décadas que ela serve os quitutes no acampamento. Lembra que o bolinho tem o poder de "prender" em casa a criançada em dias de chuva, mas, no Acampamento, é sucesso garantido seja qual for a vontade de São Pedro. Graça diz que a receita que aprendeu com a sogra "não tem segredo nenhum".
Ingredientes:
– 1 kg de farinha, 12 ovos, 3 colheres de fermento, 200g de açúcar, leite.
Modo de preparo:
– Em uma vasilha, junte todos os ingredientes e use o leite até dar o ponto "de pão de ló" – tem de ficar firme e não pode escorrer da colher. Utilize uma lata de óleo para fritar e, quando retirar, coloque açúcar e canela em cima.
Costelão 12 horas o dia todo
O churrasco é o carro-chefe do Acampamento Farroupilha, e não falta oportunidade para apreciar um costelão 12 horas seja almoço ou jantar – há alguns piquetes que oferecem o prato, especialmente nos finais de semana, sem contar os restaurantes e lancherias dentro do Harmonia. Atamil Marques, 47 anos, churrasqueiro do Costelão, conta que passa o dia assando, e às 2h já recomeça. As porções ali custam a partir de R$ 85, servindo três pessoas, segundo Atamil.
– E a maioria leva para viagem – afirma.
O segredo do costelão está no tempo (como já antecipa o nome, não é indicado apressar o processo) e no sal grosso, de acordo com o churrasqueiro. Também é necessário assar em fogo brando.
Sagu do Piquete Fortaleza Pampeana
Neto de imigrantes italianos, Luiz João, 57 anos, é quem faz o vinho artesanal utilizado no sagu que sua esposa, Rosane Toazza, 50 anos, prepara no Piquete Fortaleza Pampeana. Por isso, a dona de casa garante:
– Igualzinho a esse, não vai existir. Só o meu mesmo.
Apaixonada por culinária, Rosane destaca que a graça da tradição gaúcha está justamente na junção de várias culturas.
– É uma mistura de costumes: cada um vai trazendo um pouquinho e vai agregando. Fica uma coisa linda. Fazer sagu é super simples – diz Rosane, para quem o cravo e a canela dão o toque especial.
O piquete não costuma vender regularmente a sobremesa, mas quem ficou com água na boca poderá experimentá-la na oficina gratuita de sábado, às 17h.
Ingredientes:
-1 litro de vinho, 1 litro de água, 4 cravos, 2 canelas em pau, 1/2 pacote de sagu, 1 xícara de açúcar.
Modo de preparo:
-Em uma panela, coloque o vinho, a água, o sagu, os cravos e a canela. Quando as bolinhas estiverem cozidas (transparentes), coloque o açúcar e mexa até ele desmanchar. O tempo de preparo é de 30 a 40 minutos.
Pastel de carreira de Valter
Vem de Caçapava do Sul uma das receitas mais populares do Acampamento. A mãe de Valter Xavier Santos, 70 anos, preparava o pastel como lanche para a família nas canchas de carreira de cavalos do Interior. O filho seguiu a tradição, e hoje o vende no Piquete Panela de Gancho e para mercados, a fim de aumentar a renda de aposentado.
Para quem gosta de carne, não tem como dar errado. Na receita vai vazio ou picanha, calabresa, bacon, tempero verde e ovo cozido.
Valter exibe, orgulhoso, a novidade desse ano: o pastel ao vento, com verduras e legumes como protagonistas – mas, ainda sim, com carne na receita.
– Não é pastel de vento – apressa-se em explicar, afirmando que o tamanho do lanche, que parece "inchar", inspirou o nome.
Ingredientes:
- 1kg de farinha, 3 ovos, 2 colheres de manteiga, 1 colher de fermento, 1/2 colher de sal, 2 colheres de açúcar, leite e água morna, 1 colher de aguardente ("o segredo para ficar crocante"), 800g de carne cortada à faca (sobra de churrasco, vazio ou carne de paleta sem osso), 300g de bacon picado miudinho, 300g de linguicinha calabresa, 1 cebola de tamanho médio, 3 dentes de alho, tempero verde.
Modo de preparo:
-Ao fazer a massa, tanto faz a ordem dos ingredientes. Depois de sovar bem e abrir, acrescente a mistura do recheio, prepare os pastéis e frite.
Café de chaleira dos tropeiros
Tão saboroso como o gosto do café de chaleira é o ritual para fazê-lo. Anderson de Andrades, patrão do piquete Sangue Nativo, 34 anos, primeiro acende o fogo de chão, então pendura a chaleira de ferro em uma corrente sobre a chama. Quando a água ferve, despeja o café em pó (quatro colheres para um litro de água) e mergulha um pau em fogo para fazer a borra descer ao fundo da chaleira. É essa imersão da madeira que dá um toque diferente ao sabor, promovendo também a tradição gaúcha.
– É o café que os tropeiros faziam. Não precisa de muitos utensílios ou requinte – conta.
Anderson ensina a preparar a bebida (que é chamada de café de cambona quando, em vez de chaleira, é feita em uma lata) na oficina de café campeiro, que ocorre na quinta-feira, oferecendo também cuca, queijo, salame, cueca virada, aipim e outros pratos.