Reunir as culturas popular e digital é o foco de um evento que ocorre nesta sexta-feira e no sábado em Porto Alegre. Em sua quinta edição, o Conexões Globais traz à luz movimentos sociais em rede que tratam de assuntos desde o feminismo, passando pela diversidade sexual e de gênero até as manifestações que surgiram em junho de 2013 e se organizam até hoje pelo país.
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Neste ano, o encontro terá como sede o Vila Flores, espaço de arte, cultura, educação, empreendedorismo e arquitetura e urbanismo situado no Quarto Distrito, no bairro Floresta. Com programação de debates, oficinas e shows, o Conexões tem como tema principal a construção de cidades mais democráticas.
– Trazemos à tona vários diálogos que tentam enfatizar o que, no nosso ponto de vista, poderia contribuir para que as cidades sejam mais democráticas do que são hoje. Tudo isso dentro de uma linha de como a internet pode ajudar nessa construção – explica o ativista de cibercultura Marcelo Branco, cocriador do evento.
Em um momento de ebulição política no Brasil, o evento também retomará o diálogo sobre os movimentos que deixaram de ser apenas hashtags na internet para tomar as ruas de todo o país em junho de 2013. Especialistas em redes sociais e política debaterão o tema a partir das 20h desta sexta-feira.
– O Conexões Globais traz esse tema da “tecnopolítica”, que não é uma coisa de direita ou esquerda. São novas formas que vêm da dinâmica da internet – diz Branco.
Atividade também será transmitida pela web
Já confirmaram presença nos debates nomes como Clara Averbuck, escritora e blogueira do Lugar de Mulher, Fabio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo, Lola Aronovich, editora do blog Escreva Lola, Escreva, Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), e Tiago Pimentel, analista de redes que trabalha com cartografia de protestos.
Além disso, serão oferecidas oficinas de escrita, análise em redes sociais, xilogravura e programação e eletrônica. Nos intervalos, os participantes ainda serão embalados pelo som de Wander Wildner, Izmália, Afrocalipse, entre outros. Todo o evento terá transmissão ao vivo pela internet, com qualidade HD.
A organização estima que entre 6 mil e 10 mil pessoas devam acompanhar pessoalmente e, entre 30 mil e 50 mil, via internet.
"A rede tem um papel de fazer a agenda pública", diz autor de A Internet e a Rua
Professor de Comunicação e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fabio Malini tem como objeto de estudo a análise das mobilizações políticas pelas quais o Brasil passou entre junho de 2013 e agosto de 2015. Antes de participar do Conexões Globais, nesta sexta-feira, ele conversou com ZH.
Quando surgiram esses movimentos organizados pela internet?
Eles já fazem parte da história da web desde a década de 1990. Com a popularização da chamada internet 2.0 em que, no lugar de uma página, são perfis que mobilizam públicos, essa relação ficou mais intensa. Tiveram experiências no Irã contra o resultado eleitoral. Em 2011, as grandes mobilizações da Primavera Árabe. No Brasil, uma das primeiras experiências mais intensas entre perfis de internet ocupando rua e da rua ocupando a internet foi a dos índios Guarani Kaiowá e as chamadas revoltas em relação à mobilidade urbana, principalmente relacionadas às tarifas de ônibus e trens.
Essas experiências já acontecem desde 2005 com o Orkut, em que movimentos mais urbanos articulam suas lutas, divulgam sua bandeira e comunicam suas pautas. Quando você chega em 2013, há uma maturidade dos movimentos contra homofobia, questão racial, ambiental, indígena. Foi uma confluência de uma série movimentos que já faziam essa relação rede-rua e acabou ocupando as ruas de maneira conjunta.
O governo está preparado para encarar esses movimentos?
Um dos principais efeitos vai ser esses movimentos inserirem uma carga viral e emocional na política. Essa carga, ou seja, toda viralização, gera uma espécie de pânico nas instituições, e esse pânico é respondido muito rapidamente. A velocidade da resposta está relacionada com a da viralização da emoção. Na velocidade de resposta pode se sacrificar uma série de direitos e garantias ou conquistá-los. A grande mudança para os políticos é de que ele tem de responder muito mais rápido. Antes eles ficavam no "nada a declarar", e hoje até isso é sinal de alguma coisa.
Esses movimentos são capazes de auxiliar as pessoas que estão em cima do muro?
Sim porque conseguem fazer um agendamento de opinião, que acontece pela intensidade de compartilhamento feito por uma variedade de pessoas. Se uma notícia ou uma imagem está sendo extremamente viralizada, aquele tempo acaba ocupando a opinião de um grupo social determinado. Esses vários grupos sociais estão discutindo a mesma questão, o tema fica quente. Um tema quente da rede do zika quase que desapareceu. A Olimpíada não entrou ainda no vocabulário de internet das pessoas. Isso mostra que a rede tem um papel muito importante, junto com os canais de comunicação, de fazer essa agenda pública, e isso faz com que as pessoas modifiquem visão de mundo, decisões, voto, lados.