O motivo que faltava chegou. Assim que recebeu, na tarde deste domingo, a previsão do tempo para a próxima semana feita pelo Metroclima, o sistema de monitoramento de meteorologia da Capital, o prefeito José Fortunati decidiu decretar situação de emergência em Porto Alegre. Se aprovada, a decisão pode ajudar a prefeitura a buscar recursos estaduais e federais para superar a situação – que, segundo o prefeito, está incontrolável.
– É uma sinalização de que a situação fugiu de qualquer controle. Ainda que o volume das águas tenha diminuído, a situação é catastrófica – disse Fortunati, na tarde deste domingo, por telefone, instantes após publicar o decreto no site oficial da prefeitura.
Os casos mais lembrados pelo prefeito são os das comunidades das ilhas de Porto Alegre e do bairro Humaitá, mas Fortunati diz que o temporal foi "democrático": atingiu todos bairros da cidade. Ele lista 10 escolas alagadas, várias unidades de saúde atingidas, casas destruídas e ruas esburacadas como apenas alguns dos problemas com que o governo terá que lidar nos próximos dias.
– O mapa que nós temos é impressionante. Eu nunca havia visto nada parecido. Foi um temporal democrático, que atingiu todos os 81 bairros da cidade.
As informações passadas pelo Metroclima para Fortunati dão conta de um temporal "muito parecido" com o da última quarta-feira, que deixou pelo menos três mortos no Estado. A previsão vai contra as expectativas do governo, que esperava que o tempo desse uma trégua esta semana. A bonança, entretanto, só deve vir depois de quarta-feira.
– Os indicadores do Metroclima são preocupantes, e, por isso, estamos pedindo cautela. Agora, o pessoal não deve se movimentar. Pelo contrário, devem aguardar, porque precisamos ter segurança de que as águas não vão voltar a subir. O problema é que tínhamos expectativa de que a coisa diminuísse, mas na próxima terça teremos um novo temporal, com forte chuva e vento. Decidi decretar emergência para conseguir dialogar com o governo estadual e com o governo federal, para conseguir recursos – explica o prefeito.
Entre as principais dificuldades encontradas pela prefeitura durante o caos que se instalou na cidade nos últimos dias, Fortunati destaca três: a resistência de alguns moradores em saírem de perto de suas casas, os saques em casas abandonadas e a falta de alimentos, água e produtos de higiene.
– (O mais complicado) é convencer as pessoas a saírem de casa. Estamos com mais de 600 pessoas abrigadas, mas temos outras tantas, um número difícil de calcular, que estão nas imediações de suas casas, que não querem sair de perto. Isso acontece também por causa dos saques. E o terceiro maior problema é que já estamos começando a sentir falta de alimentos que possam ser consumidos de forma rápida. Não precisamos mais de roupas, estamos pedindo para as pessoas doarem alimentos e água. Fraldas geriátricas e infantis também são componentes importantes, que estão começando a faltar.
Veja imagens da cheia do Guaíba neste domingo: