Há 20 anos em funcionamento, a Unidade de Triagem (UT) da Restinga deve receber a última carga de resíduo amanhã. É isso que informa um ofício entregue à Associação Ecológica da Restinga pelo DMLU na semana passada que rompe o contrato de cooperação entre a entidade e a prefeitura de Porto Alegre.
O documento prevê que, até o dia 29 de outubro, o imóvel deverá ser entregue à prefeitura. A determinação é uma indicação feita pelo Ministério Público devido ao descumprimento de normais de higiene e problemas de contaminação do solo.
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A maior preocupação dos 26 trabalhadores da UT é perder o emprego devido à dificuldade de integração junto à equipe da nova UT Restinga, inaugurada em junho, na Estrada do Rincão, pelo programa municipal Todos Somos Porto Alegre.
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- Nem consegui digerir essa notícia, dependo disso aqui - comenta Luciana Souza, 43 anos, funcionária mais antiga da unidade, há 17 anos atuando no local.
A presidente da Associação Ecológica da Restinga, Adriana Santos Borré, alega que devido às semanas de chuva o caminhão do DMLU não conseguiu acessar o terreno para recolher o rejeito, o que fez o material acumular no pátio da usina. Outra exigência feita pelo MP é a colocação de cerca e o conserto do telhado, ambas intervenções que, segundo ela, dependem de um valor maior de recursos.
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- Precisamos de orientação sobre o que fazer. Queríamos um asfalto neste acesso (à UT), para não ficar um lodo em dia de chuva, não estamos pedindo muita coisa, são condições mínimas - diz, Adriana.
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Vida
Há quatro meses trabalhando na unidade, o casal Ariana Souza da Silva, 28 anos, e Jorge Francisco Branco da Silva, 31 anos, conseguiu quitar as dívidas graças ao novo emprego. Chegaram devendo R$ 1,5 mil de aluguel e hoje falam orgulhosos que pagam todas as contas em dia.
- Nossa vida melhorou muito, mas se fechar não sei como vamos ficar - teme Jorge.
Eunice Beatriz Almeida de Souza, 43 anos, não quer nem pensar como vai ficar sem o emprego que garante o rancho no supermercado, aluguel e a ajuda aos dois filhos:
- Só quero conseguir tocar minha vida.
Jorge e Ariana conseguiram mudar de vida na UT
Foto: Omar Freitas/Agência RBS
Promotora fala em problemas sérios na UT
A promotora de justiça de Meio Ambiente, que integra o Ministério Público, Annelise Steigleder, explica que há três anos vem fazendo um trabalho com as 18 Unidades de Triagem da Capital para que tenham licença ambiental e cumpram uma série de condicionantes para impedir, principalmente, a poluição do solo com o material de rejeito - aquele que não pode ser reciclado. Este, segundo Annelise, é o principal problema da UT da Restinga.
- Eu fui lá em dezembro do ano passado e identifiquei problemas sérios nas questões dos rejeitos. Há uns 20 dias, retornei e deparei com a mesma situação: os rejeitos continuavam espelhados no solo.
Com isso, ela fez a recomendação para que o DMLU intervisse na usina para impedir a continuidade da degradação ao meio ambiente. Ela lembra que todas as UTs estão em áreas públicas e, por isso, as entidades precisam fazer a gestão correta dos resíduos. À prefeitura cabe, segundo ela, fazer as adequações estruturais necessárias para a UT funcionar adequadamente.
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Promessa da Prefeitura: ninguém vai ficar sem emprego
A coordenadora do programa Somos Todos Porto Alegre, Denise Souza Costa, afirmou que a unidade ficará fechada até que se faça as adequações necessárias. Ela garante que nenhum funcionário ficará sem emprego, podendo ser encaixado em outra Unidade de Triagem da Capital, inclusive na nova UT da Restinga.
- Vamos avaliar com urgência essa situação para que nenhuma das pessoas fiquem desassistidas. Vamos entrar em contato com eles para que enquanto a UT regularize essas medidas, eles estejam trabalhando em outro lugar.
Segundo ela, todas as UTs que participam do programa Somos Todos Porto Alegre possuem recursos para fazerem melhorias imediatas e definitivas em suas unidades.
- Sabemos de mais de 11 que já fizeram melhorias imediatas, como o telhado caído.
O Somos Todos Porto Alegre é uma política pública elaborada pela prefeitura com o objetivo de promover a emancipação de carroceiros e carrinheiros em novas oportunidades de trabalho.
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Rejeito espalhado no terreno da unidade é apontado como um dos problemas pelo MP
Foto: Omar Freitas/Agência RBS