No centro de Porto Alegre, os passos ficaram mais rápido nos últimos dias. As mãos agarram com ainda mais força bolsas e mochilas. E, no olhar desconfiado de quem precisa passar pela área mais movimentada da cidade, há também medo e apreensão.
- Eu vi dois arrastões hoje (sexta-feira) à tarde, um na Andradas e outro na General Vitorino. Era uma gurizada armada com facas. Eles levavam carteiras e celulares de quem estivesse pela frente - conta a operadora financeira Renata Ajala, de 18 anos.
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Inúmeros relatos de arrastões - não confirmados pela Brigada Militar (BM) - se propagaram pelos grupos de WhatsApp ou nas conversas de esquina, deixando a população cada vez mais acuada. Priscila da Costa Petry, 36 anos, é uma das pessoas que viu um grupo tomando de assalto objetos dos pedestres na quinta-feira.
- Foi ali no Camelódromo. Eram umas 17h30min quando começou a correria. O desespero era total. O grupo recolhia o que conseguia - conta.
Para se precaver, a secretária optou por não voltar mais para casa de ônibus após o expediente:
- Eu estou apavorada. Até as coisas se acalmarem, vou pegar carona.
Não andar sozinha, carregar na mochila somente o necessário e evitar passar pela Rua Senhor dos Passos foram as medidas adotadas pela atendente de nutrição Ana Lúcia de Oliveira Rosa, 53 anos. Enquanto aguardava o ônibus no terminal Parobé nesta sexta-feira, ela dizia estar apreensiva com a situação.
- Eu não vejo mais um policial nas ruas.
Nesta sexta, a reportagem de ZH esteve na Andradas, Voluntários da Pátria, Doutor Flores, Senhor dos Passos, 7 de Setembro e Borges de Medeiros entre 16h30min e 20h30min. Apenas uma viatura da BM foi vista, pouco depois das 20h.
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Até o posto elevado do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), localizado na esquina das ruas dos Andradas e Bento Gonçalves, ficou vazio durante as quatro horas. No entanto, o comandante do policiamento da Capital, tenente-coronel Mário Ikeda, diz que houve policiamento na área central da cidade nesta sexta-feira, mas que o efetivo esteve reduzido em função da greve dos servidores estaduais. Questionado se o número de brigadianos nas ruas é suficiente, foi enfático:
- O efetivo que tem ali atende a demanda. Se tivesse mais, seria melhor.
Sobre arrastões, ressaltou que não houve nenhuma ocorrência registrada:
- Podem ter acontecido roubos localizados. Arrastões eu não tenho conhecimento.
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS
A sensação de insegurança fez com que estabelecimentos fechassem as portas mais cedo neste final de tarde. Foi o caso de uma loja localizada na Rua Doutor Flores, cujo expediente se encerraria às 19h.
- Estamos fechando às 18h20mim por precaução, para garantir a segurança dos funcionários - disse a gerente Ana Elise de Brito.
Outra loja, essa localizada na Rua dos Andradas, ficou apenas com uma das duas portas abertas.
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Segundo o gerente, Airton da Rosa, para dificultar possíveis arrastões dentro do estabelecimento.
- Estou fechando às 18h e não mais às 19h30min. Enquanto não tiver policiamento, vai ter que ser assim. Está perigoso demais - comenta.
* Zero Hora