A Câmara Municipal de Porto Alegre deve levar a votação nesta quarta-feira um projeto de lei que pretende proibir a venda ou o fornecimento gratuito de energéticos a menores de 18 anos. De autoria da vereadora Mônica Leal (PP), a proposta enfrentou uma forte pressão de empresas que dominam o mercado e de associações que representam o setor. Contrários, todos tentaram, sem sucesso, derrubar a matéria.
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O objetivo do projeto é alertar para os riscos à saúde de jovens e adolescentes, devido ao consumo excessivo dessas bebidas, e vedar uma eventual "porta de entrada" para o álcool. Se for aprovado, os estabelecimentos deverão fixar, em local visível, cartazes informativos acerca da proibição, como já ocorre com bebidas alcoólicas.
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Pelo menos duas empresas fizeram reuniões frequentes no gabinete da vereadora: Vonpar e Red Bull. Representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) também marcaram encontros com a mesma intenção: derrubar o projeto.
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A pressão aumentou há poucos meses, quando a proposta passou a integrar a ordem do dia na Câmara. A vereadora confirma que foi pressionada a retirar ou a fazer as alterações sugeridas pelo mercado. No entanto, explica que manteve a formatação original e não cedeu ao lobby dos empresários. Mônica Leal diz estar preocupada com a saúde dos jovens.
- A bebida energética contém substâncias psicoativas, e o consumo excessivo é potencialmente prejudicial à saúde, especialmente dos mais jovens, que vão além da conta. Penso que estou fazendo a minha parte como legisladora, chamando a atenção dos pais e da sociedade para esse problema - salienta.
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A Abir informou que é contrária porque os energéticos não são proibidos "em nenhum lugar do mundo" e que não há "qualquer justificativa" para a proibição a menores de 18 anos. Já a Abrasel-RS defendeu que o energético é um produto seguro e que a preocupação central é a associação ao álcool.
A Vonpar disse que a Abir poderia falar em nome da empresa. A Red Bull foi procurada, mas não havia dado retorno até a publicação da reportagem.
Contrário ao projeto, o vereador Marcelo Sgarbossa critica a cultura do proibicionismo e a invasão de direitos individuais.
- Sempre tenho muita cautela com questões que perseguem direitos individuais. E esse projeto me parece ir por esse caminho. Acho que podemos estar entrando em uma linha do proibicionismo meio equivocada - diz.
Consumo consciente dos energéticos
Os energéticos possuem como composição básica a cafeína e a taurina, substâncias que dão mais energia e disposição, mas que podem ser prejudiciais caso sejam ingeridas de forma inadequada, associadas a álcool, por exemplo. Alguns dos sintomas mais comuns são insônia, agitação e aumento da frequência cardíaca.
De acordo com o cardiologista Carlos Kalil, o consumo elevado pode trazer malefícios tanto para adolescentes quanto para adultos. No entanto, segundo Kalil, não há relação entre a ingestão de energéticos e problemas cardíacos, a menos que o paciente já tenha histórico de doenças deste tipo ou o desconheça.
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- Não existe um efeito arritmogênico direto relacionado ao consumo da cafeína. A maioria das pessoas que apresentou problemas cardíacos já tinha alguma doença que era desconhecida. É claro que o consumo elevado pode provocar algum mal-estar, sensação de taquicardia - altera o cardiologista. - Nossa preocupação é com o consumo do energético associado ao álcool. Existe uma popularização fora do comum entre os jovens - completa.
Marcos Daudt, do Instituto Cuidar Jovem, também é a favor do projeto da vereadora. Ele afirma que acompanha festas de jovens há pelo menos sete anos e faz palestras para prevenção de álcool e drogas.
- A gente tem identificado uma série de características do jovem moderno. De uns tempos para cá, o energético se tornou uma modinha. Eles estão tomando com 12, 13 anos e em momentos inoportunos, até para estudar ou para fazer atividades físicas. O energético não é feito para isso. E tudo se potencializa com a associação ao álcool, uma mistura muito perigosa - adverte Daudt.
*Zero Hora