A prefeitura de Porto Alegre admite não ter dinheiro para construir uma promessa reafirmada ao menos dez vezes, que se arrasta há 11 anos: a construção de arquibancadas fixas no Sambódromo da Capital. Diferente da perspectiva dita ao Diário Gaúcho em setembro do ano passado, quando calculava o início das obras para após o Carnaval de 2015, o secretário do Gabinete de Desenvolvimento e Assuntos Especiais (Gades), Edemar Tutikian, justifica que todos os recursos serão buscados na esfera federal:
- O cinto da prefeitura está apertado por conta da crise econômica. Por isso, o cronograma da obra mudou. Em outubro do ano passado, entregamos uma cópia do projeto nas mãos da então ministra da Cultura, Marta Suplicy, numa visita dela a Porto Alegre. Mas não sabemos como está o processo neste momento.
Em Brasília
Edemar pretende ir a Brasília ainda neste mês para discutir com representantes do Ministério da Cultura o destino do Sambódromo. Ele garante que, se aprovada, a obra organizaria o espaço na Zona Norte da Capital e ofereceria lugar para mais de 9 mil espectadores.
- A prefeitura não dispõe deste recurso. Precisaremos contar com a sensibilidade do governo federal para que a verba seja liberada. Não é tanto recurso assim para eles. Esperamos o repasse, mesmo que seja feito em etapas - afirma.
Cenário de abandono
Enquanto a situação da obra não se resolve, quem vive no Complexo Cultural Porto Seco reclama da sensação de abandono e da falta de segurança do espaço. Portões de ferro arrombados, buracos na cerca de concreto, vidros quebrados nos barracões e até o esqueleto de um carro alegórico jogado dentro um valão são as cenas vistas por quem chega ao local.
Cada barracão - são 15, no total - tem um caseiro ou família morando. As escolas de samba são responsáveis pela manutenção deles e a Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre e a prefeitura, pelo cuidado do espaço. Há dez anos vivendo no barracão da Bambas da Orgia, Augusto Prestes Pinto, 59 anos, conta que as tentativas de arrombamento aos prédios aumentaram, assim como circulação de pessoas que não fazem parte do espaço.
- Os três portões de ferro foram arrebentados por vândalos e ladrões de metal. À noite, o complexo vira um motel a céu aberto. E não podemos fazer nada - conta.
Há seis anos cuidando do barracão que hoje pertence à Acadêmicos de Niterói, Luma Paim, 48 anos, conta que desistiu de colocar novos vidros no prédio - cada um custa R$ 150. No lugar deles, optou por madeira.
- Eles quebram a pedradas para tentar entrar. Se tivéssemos guardas, como havia até abril deste ano, estaríamos mais seguros - acredita.
Liga defende o espaço
Ao contrário de quem vive no espaço, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre, Juarez Gutierrez, enaltece que este é o melhor momento do Complexo Cultural Porto Seco em 11 anos. Ele destaca eventos ligados à prefeitura, como treinamentos de servidores públicos, que estão ocorrendo no espaço para mantê-lo ativo durante todo o ano:
- É a primeira vez que o Complexo está sendo usado para outras atividades, e isso precisa ser mostrado também.
Sobre os portões arrombados ou arrancados, Juarez destaca que só neste ano a Liga gastou mais de R$ 5 mil em consertos. Com relação aos guardas, ele firma que o espaço jamais teve segurança fixa - apenas sazonal, de acordo com os eventos.
Juarez ressalta que este não é momento certo para a Liga cobrar a construção do novo Sambódromo:
- Há uma crise econômica no país e seria uma incoerência cobrar agora esta obra.
Projeto para o Ministério da Cultura avaliar
* Serão quatro módulos de arquibancadas.
* A capacidade será para 9.683 espectadores.
* A área construída terá 4.788,40 metros quadrados
* O custo da obra é de R$ 25.696,459,19.
Entenda o caso
* Existente desde 2002, quando foi definido o novo local de desfiles carnavalescos, o projeto de construção do Sambódromo do Complexo Cultural Porto Seco foi remodelado a partir de sugestões das escolas e de uma análise da Sapucaí.
* O edital de licitação (concorrência pública) para o Complexo Cultural do Porto Seco foi lançado em 2003.
* A inauguração parcial da obra ocorreu em 2004, com promessa de conclusão em 2005.
* Desde 2004, quando a primeira apresentação foi realizada no local, o monta-desmonta das arquibancadas já custou cerca de R$ 20 milhões aos cofres públicos.
Falta de arquibancadas no Porto Seco completa dez anos na mesma situação
Um enredo de promessas
1) 2004 _ Autor: João Verle
* Em um material de divulgação, a prefeitura, no último ano da gestão de João Verle, garantiu que, com recursos próprios, construiria um módulo de arquibancadas por ano.
2) 2/1/2009 _ Autor: José Fogaça
* Ao assumir seu segundo mandato, Fogaça garantiu a conclusão das arquibancadas e camarotes, que poderiam comportar salas de aula e oficinas de Carnaval para toda a comunidade.
3) 2010 _ Autor: José Fogaça
* Em seu último dia na prefeitura, Fogaça anunciou que, naquele ano, seria construído o primeiro módulo de arquibancadas.
4) 22/2/2012 _ Autor: José Fortunati
* Passado o Carnaval, o prefeito determinou a retomada do projeto para construção do Complexo Cultural do Porto Seco e anunciou o início das obras para aquele ano. Um módulo estaria pronto antes dos desfiles de 2013.
5) 5/2/2013 _ Autor: José Fortunati
* Poucos dias antes do Carnaval, Fortunati apresentou novo projeto do Sambódromo e anunciou que os dois primeiros módulos da arquibancada, de um total de nove, deveriam estar prontos em 2014.
6) 5/5/2013 _ Autor: Edemar Tutikian
* O secretário de Desenvolvimento e Assuntos Especiais afirmava que uma nova licitação das arquibancadas aberta em até seis meses.
7) 28/6/2013 _ Autor: José Fortunati
* Ao lado dos secretários do Desenvolvimento e Assuntos Especiais, Edemar Tutikian, e da Cultura, Roque Jacoby, Fortunati apresentou mais um projeto, mas sem data de início.
8) 23/1/2014 _ Autor: Edemar Tutikian
* Novo projeto é apresentado pelo secretário de Desenvolvimento e Assuntos Especiais, junto a outros secretários, também sem data de início.
9) 28/2/2014 _ Autor: José Fortunati
* Na primeira noite de desfiles, o prefeito disse que o município trabalhava no edital de licitação para construir dois módulos permanentes de arquibancadas para 2015.
10) 20/9/2014 _ Autor: Edemar Tutikian
* O secretário afirmou que o projeto da primeira etapa das arquibancadas estava pronto, aguardando o parecer dos bombeiros para seguir para abertura do processo licitatório. A obra poderia começar após o Carnaval de 2015.
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Carnaval
Falta verba para erguer arquibancadas do Sambódromo de Porto Alegre
Obra de R$ 25 milhões que ergueria quatro módulos de arquibancadas no Sambódromo da Capital só sairá do papel se ganhar verba do Governo Federal
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