O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso de retomada da esperança, da paz, do combate às desigualdades e à pobreza no final da tarde desta sexta-feira (30), na cerimônia de inauguração oficial dos blocos B e C do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), na sua última agenda do dia no Rio Grande do Sul. Contrariando expectativas do público, que entoou "inelegível, inelegível" por diversas vezes antes do ato, Lula ignorou a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, horas antes, afastou o ex-presidente e arquirrival Jair Bolsonaro (PL) das eleições pelos próximos oito anos.
— Chega de violência, de miséria, de fome, de desespero. Esse país precisa mudar e eu voltei, junto com vocês, para a gente mudar e transformar esse país em uma grande nação — afirmou Lula, em discurso de 17 minutos.
Seguindo a narrativa de virada de página pós-Bolsonaro, adotou tons motivacionais, com frases de efeito como "a gente pode", e afirmou que quem "pensa pequeno, colhe pequeno".
— Conseguimos provar que o pobre não é o problema desse país. Pobre passou a ser a solução quando o colocamos no orçamento da União — declarou o presidente.
Reafirmando seu desejo de colocar o Brasil como mediador dos conflitos internacionais, falou em paz ao mencionar a guerra entre Rússia e Ucrânia e disse estar disposto a fazer "uma campanha mundial pelo fim da desigualdade".
O presidente esteve ao lado da primeira-dama, Janja da Silva, de ministros, autoridades estaduais, municipais e servidores do hospital.
Anúncio de investimento em saúde
Antes do discurso de Lula, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou duas portarias que liberam, somadas, R$ 167,9 milhões para investimentos em saúde no Estado. A previsão é de que os recursos atendam hospitais em Guaíba, Santa Maria, Caxias do Sul e Bagé (radioterapia). A plateia chegou a cantar "fica, Nísia", uma reação às pressões para que o Palácio do Planalto entregue a gestão do Ministério da Saúde ao Centrão, em troca de uma base aliada estável no Congresso. A desarticulação na Câmara dos Deputados, sobretudo, é um dos principais nós do terceiro mandato de Lula.
No palco, uma placa referente à inauguração oficial dos blocos B e C do HCPA foi descerrada por Lula e outras autoridades. Os novos prédios foram visitados pela comitiva antes do evento presidencial.
O ato foi realizado em uma área externa do HCPA, com montagem de palanque e estrutura de cobertura para o público, que compareceu de forma numerosa e animada.
Além de lulistas que portavam cartazes, bandeiras, bonés e camisas de instituições ligadas historicamente ao PT, como a CUT e o MST, havia significativa quantidade de pessoas ligadas à área da saúde na plateia. Isso podia ser observado por crachás profissionais do HCPA e adereços de entidades de classe, além da presença de dirigentes do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).
Gabriel e Melo
No palanque, além de ministros como Paulo Pimenta (Comunicação Social) e Camilo Santana (Educação), estiveram o vice-governador Gabriel Souza e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, os dois últimos do MDB.
Gabriel, ao estilo emedebista raiz que se adapta a qualquer ambiente, demarcou que podem existir divergências políticas com o governo Lula, mas destacou a disposição de trabalhar em conjunto e agradeceu o empenho da União em demandas recentes do Rio Grande do Sul, inclusive no socorro após o ciclone que atingiu o Estado recentemente. Gabriel colheu alguns aplausos. Já Melo, prejudicado pela rouquidão e uníssonas vaias, fez manifestação breve. Falou em democracia, respeito à divergência e demonstrou preocupação com a reforma tributária, que pode acabar extinguindo o ISS, imposto cobrado de forma autônoma pelos municípios.
O ato foi encerrado quando a noite já havia caído sobre Porto Alegre. Lula não conversou com a imprensa ao final e iniciou o retorno a Brasília.
Antes da agenda no HCPA, o presidente almoçou com o governador Eduardo Leite e ex-chefes do Executivo gaúcho no Palácio Piratini. Pela manhã, no primeiro compromisso desta visita ao Rio Grande do Sul, a primeira do terceiro mandato, ele entregou unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
O que Lula inaugurou oficialmente no HCPA
Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana,inauguraram oficialmente o novo bloco cirúrgico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), no bloco B da instituição. Também foi formalmente entregue o bloco C, onde fica a área de ensino e o Centro de Simulação. A estrutura física do HCPA foi ampliada em 70% com os dois equipamentos.
Uma placa foi descerrada em homenagem ao presidente na cerimônia. As estruturas demandaram investimentos de R$ 555,5 milhões, com recursos exclusivos do Ministério da Educação (MEC), previstos nos planos plurianuais de 2011 e 2012. As verbas aplicadas são do MEC porque o HCPA é uma instituição universitária.
As novas instalações do bloco cirúrgico estão distribuídas em três andares, somando 11 mil metros quadrados. Em meados de junho de 2023, 13 salas cirúrgicas passaram a operar, mas os ambientes têm capacidade para alcançar 40 destas unidades, o que dependerá de mais investimentos. Os espaços, no futuro, também deverão receber unidades de hemodiálise, endoscopia e centros de infusões e oncologia, entre outros.
Os prédios foram concluídos em 2019, mas a ocupação foi postergada por conta da pandemia de coronavírus. Durante o período agudo da crise sanitária, uma parte deles foi utilizada para a realização de atendimentos. Após o arrefecimento, foi iniciada a ocupação progressiva para as finalidades originais. O novo bloco cirúrgico passou a atender pacientes em 16 de junho de 2023. O Centro de Simulação, destinado ao ensino e qualificação de profissionais da saúde, funciona desde março de 2023. Apesar de já estarem em atividade, a visita de Lula foi considerada o marco de inauguração oficial.