A pouco menos de seis meses da eleição para o governo do Estado, o senador Luis Carlos Heinze (PP) e o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL) travam uma batalha particular para conquistar a simpatia e os votos do eleitorado conservador, vinculado ao presidente Jair Bolsonaro. Os dois pré-candidatos trabalham para fortalecer suas alianças e, até o momento, nenhum deles deu sinal de que esteja disposto a ceder em nome da unificação do bolsonarismo.
Na passagem mais recente pelo Rio Grande do Sul, na última sexta-feira (8), Bolsonaro tratou de deixar claro que está confortável com o palanque duplo. Eu seu discurso no aeroporto de Passo Fundo, referiu-se a Heinze e Onyx como dois "velhos amigos" do Congresso Nacional — eles foram colegas do presidente em legislaturas passadas na Câmara. A plateia aplaudiu os dois.
Até o momento, ambos permanecem com a chapa incompleta. Heinze anunciou a vereadora Tanise Sabino (PTB) como vice, mas ainda não confirmou o candidato ao Senado. O PP tenta convencer o deputado Jerônimo Goergen, que havia decidido não concorrer neste ano, a entrar no páreo.
Onyx, por sua vez, ganhou a disputa com o PP pelo apoio do Republicanos e, com isso, terá o vice-presidente Hamilton Mourão como seu candidato ao Senado. Também conseguiu atrair o Pros. No entanto, ainda não anunciou quem será o vice.
No momento, seus partidos mantêm conversas com siglas menores, como Solidariedade e Patriota. O PSC seria outra opção, mas deverá lançar o empresário Roberto Argenta como candidato ao Piratini.
Além de serem apoiadores de Bolsonaro, os partidos que fecharam com Onyx e Heinze também têm influência na comunidade evangélica, um dos segmentos nos quais o presidente da República é mais bem avaliado. O Republicanos é ligado à Igreja Universal, enquanto o PTB gaúcho tem laços com a Assembleia de Deus. Antes de fechar com o partido, Heinze convidou para ser vice a deputada federal Liziane Bayer, pastora da Igreja da Graça de Deus, que recentemente trocou o PSB pelo Republicanos.
Para além do apoio oficial do Palácio do Planalto, aliados dos dois candidatos acreditam que o desafio de conquistar os votos do eleitorado conservador também passará por demonstrar as virtudes e realizações de cada um.
Coordenador do plano de governo de Heinze, o prefeito de Esteio, Leonardo Pascoal, aposta na biografia e na fama de trabalhador do progressista:
— O apoio do presidente é um dos elementos da candidatura, mas não é nem sequer o mais importante. O senador tem uma trajetória bastante robusta, é um dos poucos pré-candidatos a já ter chefiado um Executivo e tem uma bagagem ampla.
No lado oposto, a equipe de Onyx planeja conectá-lo aos feitos do governo federal e indicar que o Estado pode seguir rumo semelhante.
— O partido do Bolsonaro é o PL, e o número dele é o mesmo do Onyx. Agora, a eleição é uma disputa de ideias, e vamos demonstrar que o Rio Grande do Sul tem muito a avançar, no mesmo rumo do Brasil — diz o deputado estadual Rodrigo Lorenzoni, filho de Onyx.
Conflitos de bastidor
Embora alimentem ambição idêntica, Heinze e Onyx ainda não protagonizaram qualquer conflito público. Nos bastidores, a conversa é diferente. O staff de Heinze atribui ao concorrente o surgimento dos boatos de que o senador desistiria da corrida ao Palácio Piratini para assumir o Ministério da Agricultura.
Já apoiadores de Onyx juram que uma parte do PP deseja se juntar à candidatura do deputado, por receio de que Heinze não decole — versão rechaçada pelo partido. A deputada estadual Silvana Covatti (PP) chegou a se colocar à disposição para concorrer a vice-governadora no ano passado, mas o movimento esfriou.
Para a campanha, correligionários de ambos identificaram ao menos um possível foco de desgaste do oponente a ser explorado. No PL, estão sendo compiladas as declarações críticas de Jerônimo Goergen ao governo federal.
No PP, há comentários sobre o episódio em que Onyx admitiu ter recebido caixa 2 nas campanhas de 2012 e 2014. Ele fez um acordo com o Ministério Público, pagou multa de R$ 189 mil e não foi processado.
Ativos
Líder em número de prefeitos e com diretórios abertos em quase todos os municípios do Estado, o PP tem na capilaridade o principal ativo de Heinze na corrida ao Piratini. Embora tenha feito parte de vários governos, a sigla não comanda o Estado desde 1986, último ano do mandato de Jair Soares, quando ainda se chamava PDS.
Em contrapartida, o PL gaúcho ainda é um partido com estrutura reduzida, que passa por reformulação após a chegada de deputados bolsonaristas vindos de outros partidos — Onyx, inclusive. Internamente, o temor é de que os candidatos ao Legislativo se preocupem excessivamente a própria eleição e deixem em segundo plano o reforço ao nome de Onyx.
— Estamos organizando para as próximas semanas um encontro entre as bancadas estadual e federal, com o objetivo de ir conectando o partido e as bancadas e reforçar a defesa do nome de Onyx — diz Rodrigo Lorenzoni.
Por outro lado, o grupo do deputado está otimista com os resultados de pesquisas contratadas por partidos políticos e entidades, em que ele costuma aparecer na frente, com números até três vezes melhores do que o senador.
O presidente do PP, Celso Bernardi, não demonstra preocupação com o quadro:
— Heinze é campeão em derrotar pesquisas — provoca Bernardi, lembrando que o correligionário aparecia em quarto lugar na última pesquisa antes da eleição para o Senado, na qual terminou em primeiro.
De aliados a adversários
Na idade e na política, quatro anos separam Heinze, 71 anos, e Onyx Lorenzoni, 67. Na eleição de 2018, o deputado estava fechado com a candidatura do progressista a governador, implodida pela aliança nacional do PP com o PSDB. Restou a Heinze concorrer ao Senado na coligação do ex-governador Eduardo Leite.
A despeito do acordo com os tucanos, Heinze deu ombros ao então candidato Geraldo Alckmin, declarou apoio a Bolsonaro e foi eleito em primeiro lugar, com 2,3 milhões de votos. Onyx, por sua vez, coordenou a campanha presidencial do então candidato do PSL e, mesmo sem dedicar-se por inteiro à sua reeleição, foi o segundo deputado federal mais votado do Estado, com 183 mil votos.
Coordenador da transição de governo, o deputado foi alçado ao Ministério da Casa Civil, um dos mais importantes da Esplanada. Com dificuldades de lidar com o Congresso, ficou apenas um ano no cargo, mas jamais saiu do primeiro escalão.
Assumiu a pasta da Cidadania, responsável pelo Bolsa Família. No ano seguinte, passou para a Secretaria-Geral da Presidência e, finalmente, conseguiu vitrine importante ao assumir o Ministério do Trabalho e Previdência, pasta recriada em julho do ano passado para abrigá-lo. As diversas trocas de ministérios renderam a ele o apelido de "curinga' do presidente.
Cotado para o Ministério da Agricultura, Heinze decidiu cumprir o mandato de senador para ampliar a atuação em outros temas, como saúde e infraestrutura, já vislumbrando a eleição deste ano. Fiel ao Bolsonaro, colheu desgastes e zombarias ao ser um dos principais defensores da atuação do governo na pandemia durante a CPI da Covid.