Organizações que puxaram os protestos deste fim de semana contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiram convocar novos atos para o próximo domingo (14) em várias cidades e já planejam uma mobilização duradoura.
O movimento Somos Democracia, que reúne integrantes de torcidas organizadas de times de futebol, o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e a Central de Movimentos Populares (CMP) confirmaram nesta segunda-feira (8) a realização de novas manifestações.
— Nosso objetivo é mostrar que a maioria da população está contra as políticas assassinas do governo e as ameaças de ruptura com a democracia. A gente não sabe dizer quando a gente vai parar essas manifestações — diz Danilo Pássaro, membro da Gaviões da Fiel, do Corinthians, e um dos mobilizadores.
A decisão foi tomada apesar das críticas à formação de aglomerações em plena pandemia da covid-19, o que contraria as orientações médicas de só romper as normas de distanciamento social em caso de extrema necessidade.
Os organizadores dizem que valerá novamente o pedido aos participantes para usar máscara, levar álcool em gel e tentar manter distanciamento.
As pautas serão, mais uma vez, um misto de crítica a Bolsonaro, defesa dos pilares democráticos, apoio à causa antirracista e desagravo ao SUS. Diferentes movimentos estão por trás das convocações, incluindo os grupos que se denominam antifascistas, coletivos independentes e núcleos partidários.
— O ideal é manter as manifestações até conseguirmos afastar o presidente Jair Bolsonaro, pelos crimes cometidos contra a vida, a saúde do povo e a ordem democrática — afirma Raimundo Bonfim, da CMP, entidade que compõe a Frente Brasil Popular.
O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL), coordenador da Frente Povo sem Medo, também encampou a convocação. Ele descreveu a mobilização como histórica e afirmou em uma rede social que, com ela, "começou uma caminhada que vai derrotar Bolsonaro".
— O desenvolvimento desse processo, o que vai acontecer nas próximas semanas, ainda não dá para saber, sobretudo por causa da pandemia — diz Boulos à reportagem, ressaltando que o principal resultado colhido até agora foi a quebra do monopólio do bolsonarismo sobre o asfalto. — O bolsonarismo já era minoria na sociedade, e agora é também minoria nas ruas. Isso é muito importante. As manifestações pela democracia e contra o Bolsonaro foram muito maiores do que aquelas em defesa do governo.
Para ele, "a grande potência" dos eventos consistiu em reunir uma diversidade de perfis, "com torcedores organizados, movimento negro, movimentos sociais, jovens, estudantes, sem-teto, professores".
A frente liderada por ele ainda debaterá a adesão ao novo ato, mas a tendência é que isso ocorra.
— O Somos Democracia, dos torcedores organizados, já puxou um evento. O MTST com certeza estará lá — diz.
Ele, que também é pré-candidato a prefeito da capital paulista pelo PSOL, reitera a recomendação de que pessoas de grupos de risco evitem se somar às passeatas e afirma que "todos os cuidados sanitários" continuarão a ser respeitados.
Outros grupos
O PSOL e o PT aderiram à causa ao longo da semana e declararam apoio aos atos de rua, enquanto um grupo de outros cinco partidos (PSB, PDT, Cidadania, Rede e PSD) publicou um comunicado conjunto pedindo que as pessoas não compareçam a manifestações neste momento em função do coronavírus.
Líderes dos recém-criados manifestos da sociedade civil que se contrapõem a Bolsonaro e pregam a defesa da democracia também optaram por desestimular atos presenciais neste momento de disseminação do vírus.
Os grupos Estamos Juntos e Basta!, que reúnem representantes da sociedade civil, artistas, intelectuais e políticos de diferentes ideologias, têm concentrado esforços no ativismo virtual.
Segundo o porta-voz do movimento Somos Democracia, o objetivo é ampliar no próximo fim de semana o número de cidades com atos. Pássaro diz que 14 estados registraram manifestações, mas o engajamento tende a crescer agora porque "a maioria dos protestos ocorreu pacificamente".
— Vamos novamente para as ruas em defesa da democracia, contra o racismo e o fascismo — resume ele.
Organizadores buscaram minimizar episódios de tensão que foram registrados, no encerramento do protesto em São Paulo (onde a PM usou bombas para dispersar um grupo que permanecia nas ruas após o fim oficial do ato) e em Belém (onde 112 pessoas foram detidas por formarem aglomeração).
Os casos foram tratados como episódios isolados. Sobre o ocorrido em Pinheiros, Pássaro diz que já tinha saído da região na hora do incidente.
— Foi injustificável a forma como a polícia tratou aquelas pessoas. Eram grupos pequenos — afirma.
O presidente reagiu nesta segunda às manifestações de seus detratores e as classificou como "o grande problema do momento".
— O grande problema do momento é isso que vocês estão vendo aí um pouco na rua ontem, estão começando a colocar as mangas de fora — disse Bolsonaro a apoiadores.