BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - No dia em que a Polícia Federal realiza buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial em que mora o governador Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou a corporação. Witzel é adversário político de Bolsonaro. A declaração foi transmitida na internet por apoiadores do presidente.
"Parabéns à Polícia Federal, fiquei sabendo agora. Parabéns à Polícia Federal", disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre a operação que mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos no estado destinados ao combate ao coronavírus.
Ao voltar ao Alvorada, no início da noite, Bolsonaro usou um tom mais comedido, afirmando que não tinha conhecimento ainda dos detalhes da operação e que não teve ligação com a ação.
"Essa operação de hoje, no Rio de Janeiro, não tem nada a ver comigo. A PF foi cumprir uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Foi o STJ que decidiu a operação. Não fui eu", disse o presidente.
No entanto Bolsonaro não deixou de alfinetar novamente Witzel, seu adversário político, que lançou acusações nesta terça-feira contra seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"Agora, tem gente preocupada, tentando colocar a culpa em mim, falando do meu filho", disse.
Bolsonaro também afirmou que não tem nenhuma interferência sobre a Polícia Federal. Nesse momento, o presidente aproveitou para alfinetar outro desafeto, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.
"A PF está trabalhando, no meu entender, com muita liberdade. Da nossa parte, não existe e nem nunca existiu nenhuma interferência. Se existiu, não era minha, era da parte de quem está lá a frente da PF, que no caso era o ministro. Eu não vou acusar o Moro disso aí, mas, se alguém interferiu em algum momento, não foi eu."
A PF também buscou provas no Palácio da Guanabara, onde o chefe do Executivo fluminense despacha, em sua antiga casa, usada antes de se eleger, e em um escritório da mulher dele.
A operação, batizada de Placebo, busca provas de um possível esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro, diz a PF.
Witzel é desafeto de Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do governo do então ministro da Justiça, Sergio Moro.
Na saída do Palácio da Alvorada, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) sabia com antecedência da operação da PF.
Na segunda-feira (25), em entrevista à Rádio Gaúcha, Zambelli, aliada de Bolsonaro, falou de um suposto represamento de operações contra governadores, que passariam a ser deflagradas a partir de agora. "Pergunta pra ela", reagiu Bolsonaro.
A ação desta terça-feira foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação.
A investigação apura fraudes na contratação da organização social Iabas para a montagem de hospitais de campanha. O inquérito contra Witzel foi aberto a partir de um depoimento de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde preso sob suspeita de fraudes na compra de respiradores.
Neves mencionou o nome do governador ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Estão sendo cumpridos 12 mandados de busca e aprensão no Rio de Janeiro e São Paulo.
A operação se baseia em apurações iniciadas no Rio de Janeiro pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal. Os dados obtidos foram compartilhados com a Procuradoria Geral da República, que conduz a investigação perante o Superior Tribunal de Justiça.