O presidente Jair Bolsonaro (PSL) deu entrada na noite deste sábado (7) no hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo, para a quarta cirurgia desde a facada que sofreu durante a campanha eleitoral.
O presidente chegou por volta das 20h e não falou com a imprensa. Estava acompanhado da primeira-dama, Michelle, e por seu filho Carlos (PSC), vereador do Rio de Janeiro.
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão em São Paulo para acompanhar o procedimento cirúrgico do pai, mas não compareceram ao hospital na noite deste sábado.
A cirurgia está programada para as 7h deste domingo (8). O presidente planeja despachar do hospital durante o período pós-operário. Seu vice, Hamilton Mourão, assumirá a Presidência durante a internação.
Bolsonaro volta à sala de cirurgia como consequência da facada que sofreu um ano atrás. Desta vez, será para corrigir uma hérnia que surgiu na região onde foram feitas três operações desde o atentado.
O procedimento deve demorar mais de duas horas e é considerado de média complexidade. O prazo de recuperação é estimado em dez dias pelo médico Antonio Macedo, que fará a cirurgia.
O presidente quer estar com a saúde restabelecida a tempo de discursar na Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro, em Nova York. Ele falou que vai comparecer "nem que seja de cadeira de rodas, de maca".
O surgimento da chamada hérnia incisional já era esperado pelos médicos que atendem o presidente, em razão da série de intervenções feitas na região da barriga do paciente para tratar os danos provocados pelo ataque.
O então presidenciável foi esfaqueado por Adélio Bispo de Oliveira em 6 de setembro de 2018, durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). O autor do crime está preso desde então.
A hérnia ocorreu porque, em virtude do enfraquecimento da parede muscular do abdômen, uma parte do intestino passou por uma cavidade desse tecido. As múltiplas incisões (cortes) na barriga fragilizaram o músculo, o que fez com que a porção do órgão e uma camada de gordura rompessem a membrana.
–Isso escapou por uma área mais frouxa e formou uma elevação sob a pele – explica Macedo. A saliência, segundo ele, foi detectada em consultas de rotina pelo médico da Presidência da República, Ricardo Peixoto Camarinha.
–Ele já tinha percebido esse problema e me passou uma foto mostrando a situação – diz o cirurgião do Vila Nova Star, que confirmou o diagnóstico em exame clínico feito no domingo passado (1) no Aeroporto de Congonhas, após Bolsonaro desembarcar para compromissos na capital paulista.
Ele recebeu a orientação de iniciar nesta sexta-feira (6) uma dieta líquida, como preparação para o procedimento a que será submetido.
Os médicos preveem que ele fique internado pelo menos até quarta (11).
–Serão de quatro a cinco dias no hospital e depois um período igual sem poder fazer grande esforço físico – diz Macedo.
Se tudo correr como planejado, o mais provável é que ele tenha alta no meio da semana e seja liberado para voltar para Brasília com ordem de repouso.
–Ele poderá manter atividades intelectuais, falar ao telefone, conversar com ministros. Desde que não se esforce em exagero– prescreve o cirurgião.
Macedo foi responsável por cuidar do político no hospital Albert Einstein nas duas internações anteriores: em 2018, logo após o paciente ser transferido da Santa Casa de Juiz de Fora, e neste ano, na cirurgia para retirar a bolsa de colostomia e reconstruir o trânsito intestinal.
Um dos mais respeitados cirurgiões do aparelho intestinal no Brasil, o especialista deixou o Einstein em julho e passou a atender na Rede D'Or São Luiz, da qual o Vila Nova Star faz parte.
Ao anunciar que passaria pelo procedimento, o chefe do Executivo postou em uma rede social uma foto ao lado dos médicos que o examinaram e afirmou que "curtiria dez dias de férias" com eles.
A hérnia em Bolsonaro está localizada no lado direito do abdômen, perto do lugar da facada e da área onde ficava a bolsa de colostomia (usada para coletar fezes até a cirurgia feita em janeiro).
Na intervenção, a porção que "escapou" será colocada de volta no lugar e a parede muscular será reforçada com uma tela, para evitar reincidência. O procedimento, considerado corriqueiro, é necessário porque, em alguns casos, a hérnia pode provocar obstruções.
De acordo com Macedo, a literatura médica mostra que a hérnia pode voltar em 3% a 6% dos casos, o que é tido como um percentual baixo. Se Bolsonaro tomar os cuidados recomendados, provavelmente o problema não se repetirá, na avaliação do médico.
Por até dois meses depois da operação, o presidente terá que usar uma cinta pós-cirúrgica, que auxilia na cicatrização e protege a região de esbarrões e outros acidentes. Nesse período, ele também está proibido de fazer esforço físico intenso.
A recuperação de Bolsonaro após o esfaqueamento e a sequência de cirurgias foi vista como bem-sucedida pela equipe que o atendeu. Ele possui "condição de atleta", diz Macedo, lembrando o período do paciente como membro do Exército.