A Polícia Federal (PF) indiciou os empresários Joesley e Wesley Batista, donos do grupo J&F, na Operação Tendão de Aquiles, nesta quinta-feira (21). Os irmãos estão presos. Os empresários são investigados pelo uso indevido de informações privilegiadas em transações no mercado financeiro ocorridas entre abril e 17 maio de 2017 — data da divulgação de informações relacionadas à delação premiada firmada pelos executivos e a Procuradoria-Geral da República (PGR). A especulação resultou em lucros milionários para os delatores, afirma a PF.
O indiciamento diz respeito à venda de ações da JBS pela FB Participações, controladora da empreiteira. Joesley foi indiciado pela autoria dos crimesde manipulação de mercado e de uso indevido de informação privilegiada, com o agravante de cometê-los "em razão do abuso de poder de controle e administração".
Wesley foi indiciado como autor de manipulação de mercado e como partícipe no crime de uso indevido de informação privilegiada praticado por Joesley, também com o mesmo agravante.
Wesley foi preso em 13 de setembro, em São Paulo. Joesley já estava preso por ordem do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), por suspeita de violação de sua delação premiada. Contra Joesley há duas ordens de prisão, a da Corte máxima e a da Tendão de Aquiles.
Com o jogo de mercado, os irmãos Joesley e Wesley Batista tiveram um lucro de US$ 100 milhões (R$ 313,4 milhões) segundo a Procuradoria da República, em São Paulo.
"O valor das operações, somente com os dólares, foi de quase US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,4 bilhões) e causou um lucro aos irmãos Batista de US$ 100 milhões de dólares, sendo esta praticamente a mesma quantia da multa prevista na delação no processo criminal (US$ 110 milhões). No acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal, do Distrito Federal, o valor da multa acertada foi de R$ 10,3 bilhões", informou a Procuradoria da República.
A Tendão de Aquiles aponta que dias antes do anúncio da homologação da colaboração premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud, os irmãos controladores do grupo J&F autorizaram a compra e venda milionária de dólares e posterior recompra de ações do grupo em um conjunto de operações realizadas dias antes da homologação da delação, caracterizando o crime de insider trading, investigado pela PF pelo Ministério Público Federal (MPF).
O pedido formulado pela PF e pelo MPF se baseou em relatórios "que constataram que as operações financeiras eram extremamente atípicas".
Além da aquisição de contratos futuros de dólar e contratos a termo de dólar, a empresa FB Participações vendeu R$ 200 milhões de ações da JBS, que estavam em alta, alguns dias antes da divulgação da celebração do acordo.
Posteriormente, com a divulgação da informação privilegiada (homologação da delação) e com o preço das ações já em baixa, em virtude da venda realizada dias antes, os investigados readquiriram as mesmas ações por valores bem inferiores.