Com a maioria da CPI mista da JBS formada por parlamentares de partidos da base, o governo pode ter o PSDB como o principal entrave na comissão. Deputados tucanos tentam levar para prestar depoimentos no colegiado nomes que podem constranger o Planalto, como o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e o coronel reformado João Batista Lima Filho, todos próximos do presidente Michel Temer.
Os três foram implicados na delação premiada de executivos do Grupo J&F e são apontados como intermediários de propina. Deles, apenas Geddel está preso e preocupa o Planalto com a possibilidade de fechar uma delação premiada.
Os pedidos dos tucanos fogem do foco inicial da CPI mista, que vai priorizar o depoimento de delatores e integrantes do Ministério Público envolvidos nas negociações do acordo. Dos 20 requerimentos de convite ou convocação aprovados na quinta-feira (21), 14 são ligados à Procuradoria-Geral da República (PGR) ou à JBS. Os demais são de integrantes dos governos petistas, como o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho e o ex-presidente da Caixa Jorge Hereda. Nenhum requerimento para convocar delatados foi votado até agora.
— Estamos preocupados com que a CPI não se transforme em um ataque ao Ministério Público — afirmou o deputado Rocha (PSDB-AC), que pede a convocação de Geddel e Rocha Loures.
O PSDB preside a CPI mista e tem outras cinco cadeiras no colegiado. Uma, no entanto, está vaga desde que o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) deixou o grupo em protesto contra a escolha do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) — da tropa de choque de Temer — como relator.
Delatados
O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), presidente da CPI mista, tem negado que a intenção da comissão seja a de revanchismo contra delatores e investigadores, e tenta passar a imagem de independência em relação ao Planalto.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o senador admitiu que, se houver requerimento, a comissão poderá ouvir citados nas delações, como Rocha Loures e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Também é de autoria de um tucano o pedido para convocar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que presidiu o conselho da J&F. O ministro é filiado ao PSD e tem se movimentado politicamente, alimentando os rumores de que pode se candidatar à Presidência em 2018, o que tem incomodado o PSDB.