A declaração do general gaúcho Antonio Hamilton Mourão cogitando a "intervenção militar" caso o Poder Judiciário "não solucione o problema político brasileiro" repercutiu dentro do Exército. O próprio autor deu um passo atrás, dizendo que "não defendeu" a tomada de poder pelos militares.
Fato é que o assunto traz à tona pensamentos divergentes. Nesse sentido, ZH ouviu, nesta segunda-feira (18), o ex-deputado federal, sociólogo, jornalista e consultor em políticas públicas Marcos Rolim e a jornalista e vereadora de Porto Alegre pelo PP Mônica Leal, que é filha do ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-coronel do Exército Pedro Américo Leal, já falecido.
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A seguir, veja o que pensam os entrevistados:
MARCOS ROLIM:
"Quem é a favor da intervenção comete um crime contra a Constituição"
Há ambiente para uma intervenção militar?
Não. Esse ambiente não existe. O que não significa que ele não possa ser criado, a depender do desenvolvimento da crise.
Qual a melhor maneira de se resolver a crise institucional no país?
Através das instituições brasileiras e seguindo a Constituição.
Qual sua opinião sobre a intervenção militar?
Não há como ser a favor de uma intervenção militar. Quem é a favor comete um crime contra a Constituição. A Constituição não prevê intervenção militar. Aliás, surgiu essa expressão "intervenção constitucional", isso não existe. As Forças Armadas podem ser convocadas para reestabelecer a ordem por determinação dos poderes, mas nunca para reconstituir a Nação. Então, isso não existe. O nome disso é golpe. O Brasil já passou por um golpe militar com um custo altíssimo. Então, evidentemente ninguém pode ser a favor disso. Um general que faz uma declaração lamentável como essa deveria estar hoje respondendo a um processo. Mas, enfim, ainda vai ter gente defendendo o que ele disse, né?
Quais seriam os efeitos de uma intervenção militar no país?
Primeiro, risco de uma guerra civil, porque haveria resistência. Aliás, se houvesse isso, se espera que haja resistência. Porque é um dever das pessoas, do cidadão resistir contra o arbítrio. Segundo, nós tivemos uma experiência no Brasil muito recente de um golpe militar. Isso se materializa como uma ditadura. Isso significa pessoas sendo presas de forma arbitrária, significa tortura, isso significa perseguição política e censura à imprensa. É preciso estar fora da casinha para pensar uma solução dessas.
Como o regime militar lidou com a corrupção nos poderes públicos?
Escondendo. Numa época em que a imprensa, ao contrário do que agora, não podia divulgar. Na época da ditadura se roubou muito, muito, muito. A diferença é que isso não era divulgado e as instituições, como o Ministério Público e a Polícia Federal, não tinham a força que têm hoje.
MÔNICA LEAL:
"Essa intervenção pode ser de qualquer setor, inclusive do Exército"
Há ambiente para uma intervenção militar?
A intervenção vai ocorrer de qualquer setor da sociedade organizada, porque o povo exige uma solução para todos esses problemas, que começa pela lama da corrupção, pelos congressistas e parlamentares que estão investigados, que têm acusações de corrupção. Obrigatoriamente essa intervenção pode ser de qualquer setor, inclusive do Exército. Porque nós, povo, queremos a ordem social. O clima, o sentimento da população é de que a população quer, sim, que a ordem seja mantida, que as coisas voltem aos seus devidos lugares, que o país seja comandado por parlamentares honestos e decentes. Não aguentamos mais a todo momento, todo dia, notícias de políticos investigados por crimes de corrupção.
Qual a melhor maneira de se resolver a crise institucional no país?
Confio nos poderes constituídos, confio na Justiça. O que general Mourão alertou é que se os poderes constituídos, que são esses que nós confiamos e que têm plena legitimidade, não encontrarem uma solução para os problemas apresentados, que se acumulam a cada momento, que estão na Justiça e são inaceitáveis para a ordem jurídica do país, pode haver uma intervenção de qualquer setor da sociedade organizada. O que não pode é ficar como está, porque está uma baderna, virou a casa da mãe joana. O Brasil é um país bom, o povo merece congressistas decentes no comando do nosso país, que tenham uma vida que a gente possa ficar tranquilo. O que não da mais é assistir a esse desmonte.
Qual sua opinião sobre a intervenção militar?
Confio no Exército como instituição assim como o povo brasileiro confia. Pelas pesquisas, o Exército é a instituição com mais confiabilidade do povo brasileiro. Está sempre pronto, é a mão amiga, o braço forte. É a instituição que eu mais confio. O que o Exército decidir, para mim, está muito bem decidido.
Quais seriam os efeitos de uma intervenção militar no país?
Não posso falar sobre isso, tu já estás me colocando como se isso fosse acontecer. Acredito exatamente nessa colocação que Mourão disse. Não estamos pregando, eu não prego a intervenção militar, estamos alertando. Comungo do mesmo sentimento do general Mourão de que os poderes constituídos têm que encontrar uma solução para os problemas que estão ai.
Como o regime militar lidou com a corrupção nos poderes públicos?
Não teve, não teve corrupção. É só fazer uma história. O Brasil foi a oitava economia do mundo na época dos governos militares. Foi quando mais se fez obras, tinha saúde, segurança e educação. (Hoje) Não temos nada. Pagamos impostos, cada vez se cobra mais e ninguém tem nada nesse país. Não tenho direito de sair às ruas com liberdade. Tu não podes escutar um telefone, abrir a tua carteira. Estamos morrendo nas ruas como gado abatido. É o fim do mundo, porque nenhum governo priorizou a segurança pública. Dever do Estado, direito do cidadão.