No comando da Operação Tesouro Perdido em Salvador, o superintendente da Polícia Federal (PF) na Bahia, Daniel Justo Madruga, afirmou que os agentes da corporação reagiram com "espanto" ao encontrar malas e caixas de papelão cheias de dinheiro em um imóvel ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), na terça-feira (5).
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, nesta quarta-feira (6), Madruga explicou que a PF não sabia que o dinheiro estava guardado no imóvel. Conforme o delegado, a investigação buscava supostos documentos que estariam sendo escondidos por Geddel no apartamento.
A apuração é coordenada pela PF do Distrito Federal. O dinheiro apreendido durante a Operação Tesouro Perdido, que teve mandado de busca e apreensão autorizado pela Justiça Federal de Brasília, foi contabilizado em mais de R$ 51 milhões.
Leia, abaixo, a íntegra da entrevista
Como a PF chegou ao apartamento ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima?
Normalmente, as nossas investigações e operações contam com aporte de informações muito grande e de várias naturezas: investigações de campo dos policiais, eventualmente monitoramentos telefônicos. Essa investigação (Operação Tesouro Perdido) faz parte da Operação Cui Bono, que está a cargo da Superintendência da PF do Distrito Federal. E, no bojo dessa investigação, surgiu essa informação pontual de que o senhor Geddel Vieria Lima pudesse estar utilizando um apartamento aqui, em Salvador. A informação inicial que se tinha é de que ele pudesse estar escondendo documentos. A partir dessa informação, cruzando com inúmeras outras que a gente dispunha da investigação, com diversos levantamentos para checagem da procedência da informação, se chegou à conclusão de que tinha alguma plausabilidade essa denúncia.
Por quanto tempo a PF monitorou o apartamento?
A informação chegou em meados de julho. Foi o tempo de fazer um acompanhamento, de fazer uma checagem, sem levantar suspeitas porque qualquer erro num momento desses pode colocar tudo a perder. Uma tentativa de levantamento (de informação) mal feita pode levar pessoas a esconder e destruir a prova. No caso do dinheiro que foi localizado, poderiam ter tido tempo de tirar (os valores), mas, felizmente, os levantamentos foram bem feitos e confirmaram a possibilidade de haver nesse apartamento algo que nós não sabíamos.
Vocês não tinham a informação de que havia dinheiro no apartamento?
Não. Claro que a gente não descartava essa possibilidade, mas, em princípio, procurávamos documentos referentes aos ilícitos investigados.
É a maior apreensão de dinheiro da história da PF?
Ao que me consta, sim. Pelo que se está dizendo, é a maior apreensão em espécie sem dúvida alguma.
Quais serão os próximos passos da investigação?
Essa é uma investigação que está a cargo da Superintendência (da PF) do Distrito Federal. Detalhes sobre o andamento da investigação, eu realmente não posso dizer e nem disponho.
O que vai ocorrer com o dinheiro apreendido?
O dinheiro foi apreendido e já foi depositado junto à Caixa Econômica Federal, em uma conta vinculada ao processo. Com as provas identificadas na investigação e durante o processo, se se conseguir identificar a origem desse dinheiro, é muito provável que o juiz determine a devolução. Mas, se eventualmente não se conseguir, isso se ficar provado que o dinheiro tem uma origem ilícita, o juiz da causa deve dar uma destinação. Normalmente, se destina (o dinheiro) a entidades públicas, isso se não se identificar o órgão lesado.
Qual foi a reação dos agentes da PF ao encontrar as malas e caixas cheias de dinheiro?
Espanto, né? Porque realmente não se esperava, ainda mais uma quantidade tão grande. A dificuldade que se teve para contabilizar esse dinheiro... Conseguimos finalizar isso lá pela meia-noite.
Uma força-tarefa foi montada para contar o dinheiro?
A gente contou com o apoio de uma empresa de transporte de valores porque a quantidade (de notas) era muito grande. Se não fosse o apoio dessa empresa, certamente a gente ainda estaria contando o dinheiro.
Quem frequentou o apartamento durante o período em que a PF monitorou o local?
De julho para cá, não houve movimentação. Esse dinheiro já estava lá antes desse período.
Então, não houve entra e sai do apartamento?
Não, não houve. O apartamento estava fechado.
Quando a PF decidiu entrar no apartamento?
A partir do momento que se checaram as informações, essas informações foram repassadas para o delegado que conduz a investigação em Brasília e ele fez a representação ao juiz competente. A partir daí, foi expedido o mandado (de busca e apreensão). De posse desse mandado, a gente, alguns dias depois, fez mais um acompanhamento para ver o melhor momento (para cumprir o mandado) e acabou optando por fazer a busca na data de ontem (terça-feira).
Havia a informação de que o ex-ministro guardava bens do pai, que já é morto, no apartamento? A PF trabalhava com essa pista?
A informação de que teria ali objetos pessoais do falecido pai dele surgiu depois, com os levantamentos. Isso também, pelo apurado, foi o que teria sido dito para o proprietário do apartamento, porque o imóvel foi emprestado. Quando foi solicitado o empréstimo do apartamento, a desculpa que se deu foi essa, de que ali seriam guardados os objetos pessoais do falecido pai (de Geddel).
A quem pertence o apartamento?
Se me recordo, (o nome do proprietário) é Sílvio Silveira. Ele é dono de uma construtura e alguns apartamentos (pertencentes a ele) estão vazios, não foram vendidos ainda.
Cabe à PF da Bahia descobrir a origem do dinheiro e quem colocou os valores no apartamento?
A PF trabalha em coordenação entre todas as unidades. Executamos (a Operação Tesouro Perdido), mas também tivemos participação ativa na questão de identificar o local, checar as informações. A PF trabalha dessa forma: independentemente de quem está no comando da investigação, a gente tem essa capilaridade no país todo. Então, por exemplo, aqui em Salvador, se (a PF da Bahia) precisar de alguma coisa aí no Rio Grande do Sul, facilmente a gente consegue que os colegas façam as diligências necessárias. Nesse caso, a partir dessa apreensão, o delegado (da PF em Brasília) vai solicitar outras medidas para aprofundar a origem desse dinheiro e nós, na Bahia, estaremos à disposição da equipe de Brasília para adotar as providências que forem necessárias.
O senhor tem experiência no combate à corrupção. Tem se tornado mais comum a apreensão de dinheiro em grande quantidade?
De fato, é uma constatação que se tem feito ao longo dos últimos anos. (Há) um crescimento na quantidade de apreensões e nos valores dessas apreensões que a gente reputa também a um fortalecimento das investigações: quanto mais se investiga, mais se encontra. Então, eu imagino que a razão maior desse incremento das apreensões seja um aumento do nosso trabalho, principalmente na área de combate à corrupção.