O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que a crise política "está se dissolvendo". Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, na manhã desta sexta-feira (2), o peemedebista minimizou o turbilhão causado pela gravação do empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer, que se tornou pública em 17 de maio.
– A gravação da fita tem, para um perito, 50 edições, e, para outro, 70. Significa dizer que foi uma montagem. Essa fita foi usada como pressuposto para uma série de acusações contra o presidente Michel Temer. Como o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que se fizesse uma perícia, enquanto não for feita, tudo que nela diz permanece como absoluta sombra. As edições, que possivelmente serão comprovadas, comprometem por inteiro a credibilidade da fita – avaliou.
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Alinhado com Temer, Padilha manteve o tom adotado pelo presidente para diminuir o conteúdo da gravação. Ao ser questionado sobre por que Temer recebeu, à noite, um empresário investigado em uma série de operações, em sua residência e fora da agenda oficial, disse:
– Temer é um homem oriundo do Legislativo. Foi três vezes presidente da Câmara, mais de 20 anos deputado federal. Normalmente, à noite, há conversas que se estendem até a madrugada com os mais variados interlocutores. Neste caso, foi referido um, mas ele falou com outros empresários e autoridades no Jaburu. Não é algo singular. Deveria ter recebido? Aí, é uma questão de juízo personalístico dele.
Segundo o ministro, na "intimidade", porém, Temer avaliou que deveria ter tido mais "cuidado" ao receber Joesley. Para Padilha, o presidente não acreditou nas afirmações do empresário, que referiu ter corrompido juízes e um procurador para se beneficiar nas investigações em que aparece como alvo.
– Ele tinha o Joesley como alguém que falava demais, um falastrão, nas palavras dele. Não levou a sério aquelas informações que estavam sendo feitas – acrescentou.
Padilha ainda "garantiu" que Temer segue no comando do país até o fim do seu mandato, em dezembro de 2018.
Há duas semanas, os brasileiros conhecem o conteúdo das delações da JBS e da conversa do presidente Michel Temer com Joesley Batista. Há uma pressão enorme, tanto que o presidente teve que ir a público dizer que não irá renunciar. De que forma a crise está sendo tratada no Planalto?
Tivemos a gravação de uma fita que tem, para um perito, 50 edições, e, para outro, 70. Significa dizer que foi uma montagem. Essa fita foi usada como pressuposto para se partir para uma série de acusações contra o presidente Michel Temer. Como o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que se fizesse uma perícia nesta fita, enquanto não tiver sido periciada, tudo que nela diz permanece como absoluta sombra. As edições que possivelmente serão comprovadas na perícia comprometem por inteiro a credibilidade da fita. Em uma edição, pode se transportar de um ponto para outro determinada expressão ou frase que muda completamente o contexto.
Mas é incontestável que o presidente recebeu, na calada da noite, um empresário que depois ele mesmo definiu como um salafrário, deu poder a Rocha Loures para ser o interlocutor do governo e esse deputado foi flagrado recebendo uma mala de dinheiro. O senhor não considera isso grave?
O presidente Michel Temer é um homem oriundo do Legislativo. Foi três vezes presidente da Câmara, mais de 20 anos deputado federal, e normalmente à noite há conversas que se estendem até a madrugada com os mais variados interlocutores. Neste caso, foi referido um, mas ele falou com outros empresários e autoridades no Jaburu, não é algo singular. Deveria ter recebido? Aí, é uma questão de juízo personalístico dele.
O presidente se arrepende de ter recebido Joesley?
Na intimidade, ele diz que, neste caso, deste empresário, deveria ter tido mais cuidado. Mas já passou.
O presidente não entendeu como a narrativa de uma série de irregularidades no momento em que Joesley diz que "encostou" um procurador da República?
Ele diz que tinha o Joesley como alguém que falava demais. Um falastrão, nas palavras dele. Ele não levou a sério aquelas informações que estavam sendo feitas.
O governo teme uma delação de Loures?
O presidente se relacionava com o deputado há 10 anos. Conhece ele, a sua origem familiar, vem de uma família de posses, uma pessoa que tem formação inclusive no Exterior e que se mostrou profundamente educada. O presidente não teme nenhuma delação, porque, primeiro, não há o que temer, e, segundo, ele acha que o deputado vai manter esse perfil ético em relação que teve durante todo esse tempo em relação a ele.
Não há nenhum tipo de preocupação de que possa existir algo que tenha de ser explicado depois pelo presidente. Na conversa com o Joesley, ele poderia ter indicado qualquer um dos seus assessores, mas indicou o Rodrigo, que iria ouvir possíveis reclamações. Ele disse que que tinha de tratar assuntos do Cade e de outros órgãos do governo, e o presidente, para fugir desse contato, indicou o Rodrigo.
O senhor não se constrange em permanecer na Casa Civil mesmo estando sob investigação?
Essa é uma questão da Presidência da República. Investigação, em princípio, não é nenhum tipo de condenação. Isso não leva a impossibilidade, e o presidente tem dito que os ministros merecem a confiança dele. Então, continuo como ministro.
O governo renovou a medida provisória para manter o foro de Moreira Franco. Isso não é obstrução de Justiça?
O ministro Moreira Franco estava no governo. Não tinha status de ministro, mas tinha uma função. Era o condutor do programa Crescer, agia como se ministro fosse. Então, a elevação do cargo de ministro foi dar a um fato uma cobertura jurídica. Ele já agia como se ministro fosse, então passou a ser ministro. O fato de nomear um ministro não significa obstrução de Justiça. Ele apenas passar a usar o foro por prerrogativa de função.
Mas quando Dilma Rousseff tentou nomear Lula seu ministro, interpretou-se, inclusive os senhores, que eram oposição, como obstrução de Justiça.
Não era obstrução, era elevar alguém a um cargo que tem a prerrogativa. Mas a situação do presidente Lula é completamente diferente do ministro Moreira Franco, que estava dentro do governo, fazendo ações como se ministro fosse. Lula não, ele estava fora e iria entrar no governo.
Por que o deputado Rocha Loures carregava uma mala com R$ 500 mil?
A versão que nos chegou é que ele caiu em um engodo. Foi preparado um processo em que ele caiu, não se deu conta de que estava sendo usado. Foi uma montagem. O objetivo era obter uma filmagem.
Mas por que ele recebeu o dinheiro?
É uma questão que eu não sei.
Mas o Planalto não buscou uma explicação, já que ele era um aliado?
Ele era um aliado, mas o Planalto não pode sair atrás de explicação dos atos de cada uma das pessoas que trabalham no governo e que não dizem respeito a sua atuação como representante do governo.
Em Brasília, já se fala sobre a possibilidade da PGR apresentar denúncia contra Temer. Se isso acontecer, ele terá condições de continuar governando?
Na apresentação, essa denúncia tem que ser recebida também pela Câmara dos Deputados. Primeiro, ela é apresentado para o ministro Fachin (relator da Lava-Jato no STF), que pode recebê-la ou não. Se ele receber, para que o presidente da República possa ser processado tem que ser autorizado (o processo) pela Câmara dos Deputados. Dois terços da Câmara têm que aprovar esta medida e, então, a partir daí, é que a gente pode pensar em ter legitimidade ou não ter. enquanto isso não acontecer, não se discute a questão de legitimidade.
Essa denúncia, tudo indica, será baseada nesses elementos dessa fita. E vamos dizer mais uma vez, essa fita ainda se encontra sob perícia por determinação do Supremo Tribunal Federal. Todo episódio nasceu com essa fita e na medida em que temos essas gravações sendo periciadas, enquanto não estiver concluída a perícia, ela (a fita) está sob suspeição.