O julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer entrou no quarto dia de sessões nesta sexta-feira (9). O voto do relator do processo, Herman Benjamin, durou cerca de 10 horas, e expectativa é que a votação seja concluída até a noite.
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Confira quatro momentos de descontração em meio à tensão em plenário:
1. Exame de vista
Ao exibir, no telão, uma imagem com doações da Odebrecht, Herman desculpou-se com os demais magistrados por não conseguir ampliar a foto.
– O intuito aqui não é fazer exame oftalmológico nos ministros – disse, bem-humorado.
2. Saúde comprometida
O relator e o ministro Admar Gonzaga protagonizaram uma série de discussões sobre a inclusão dos depoimentos do empresário Marcelo Odebrecht no processo. Em um questionamento, Gonzaga disse que baseava a sua argumentação no relatório de Herman, "um trabalho elogiável".
– Até te fez perder a saúde, parte dela, pelo menos – ironizou.
Herman está resfriado.
3. Sem perícia pode?
Herman fez uma referência ao ministro Luiz Fux, o qual havia calculado que o voto do relator já durava 14 horas. Em tom de brincadeira, questionou se o cálculo havia sido periciado.
– Agora, até fita sem perícia vale – intrometeu-se Gilmar Mendes, em uma alusão às gravações do empresário Joesley Batista com Michel Temer.
– Vocês vejam que ele estava calmo até agora... – respondeu Herman.
O plenário foi aos risos.
4. Não mexe com o Flu
Em um momento de descontração na sessão, Herman lembrou o depoimento de Maria Lúcia Tavares, secretária da Odebrecht, segundo o qual um executivo da empreiteira usava jogadores do Fluminense como codinomes para o pagamento de propina.
Herman citou alguns nomes, e Fux, que é fanático pelo tricolor carioca, interrompeu.
– Aí já é provocação – disse, aos risos.
5. "Não carrego o caixão"
No final da sessão desta manhã, Herman disse que, como juiz, se recusava a fazer o papel de "coveiro de prova viva".
– Eu recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar de velório, mas não carrego o caixão.
6. Pôncio Pilatos
Durante a leitura de seu voto, o ministro Napoleão Nunes Maia comparou o presidente do TSE, Gilmar Mendes, a Pôncio Pilatos, governador romano que decidiu pela crucificação de Jesus Cristo, enquanto pessoa culta e erudita.
– Se você me permitir, professor Gilmar, vou dizer que Pôncio Pilatos tinha em seu tempo o respeito intelectual, a cultura, a proficiência e a admiração que tem Vossa Excelência hoje no Brasil – afirmou.
Entretanto, o ministro Napoleão diz que o que Pôncio Pilatos fez, na crucificação de Jesus, foi "democratizar sua decisão", "ouvir a vox populi".
– Deu no que deu. Passou à História como um homem covarde, pusilânime, que não teve coragem de enfrentar a voz do povo – explicou o ministro.
Napoleão é evangélico e citou vários fatos bíblicos ao longo da leitura de seu voto.
Depois de Napoleão encerrar seu posicionamento, foi a vez de Admar Gonzaga tomar a palavra. Ele exaltou a figura de Mendes e frisou que o presidente do TSE, ao contrário de Pôncio Pilatos, não pode ser considerado um "juiz frouxo".
– Com muita sorte temos magistrados que podem ser comparados a Pôncio Pilatos, como pessoa culta e erudita, mas não como juiz frouxo – Admar. – Ministro Napoleão, Vossa Excelência ministro Gilmar, jamais podem ser chamados de juiz frouxo – completou.
7. Américo Pisca-Pisca
Mendes iniciou seu voto citando um personagem literário de Monteiro Lobato, Américo Pisca-Pisca, que queria abóboras nascendo no alto, como jabuticabas, e que mudou de ideia assim que uma das frutas caiu em seu nariz.
– Que espiga! Pois não é que se o mundo fosse arrumado por mim a primeira vítima teria sido eu? Eu, Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta no lugar da jabuticaba? – exclama Pisca-Pisca ao ser atingido pela jabuticaba, na obra O Reformador do Mundo.
O ministro fazia alusão à possibilidade de cassar a chapa Dilma-Temer, tirando, assim, o atual presidente do poder.
– É isso que se quer? – pergunta Mendes sobre uma eleição indireta no Congresso em 30 dias.