Preso na Operação Panatenaico, nesta terça-feira (23), o ex-governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda (PR), é alvo de pelo menos três escândalos na carreira política.
Antes de ter o nome envolvido na polêmica do painel eletrônico, no mensalão do DEM e em supostas irregularidades nas obras do estádio Mané Garrincha, o político ingressou na vida pública como engenheiro eletricista da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), no DF, no final dos anos 1970.
Na década seguinte, o engenheiro se tornou diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB), quando se aproximou de políticos como o ex-governador Joaquim Roriz (atualmente, no PRTB), de quem foi chefe de gabinete e secretário de Obras. Com trânsito no governo distrital e o apoio de Roriz, Arruda concorreu e venceu a disputa ao Senado em 1994. Na época, o político era filiado ao antigo PP (junção do PTR e do PST). No ano seguinte, entretanto, ele rompeu com o padrinho e seguiu para o PSDB.
O primeiro escândalo a atingir Arruda ocorreu em 2001, no seu último ano de mandato. Segundo a revista ISTO É, o político do Distrito Federal esteve em uma reunião com o então presidente da Casa, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), e os procuradores da República Luiz Francisco de Souza, Guilherme Schelb e Eliana Torelly, quando teriam sido revelados detalhes sobre a fraude do painel eletrônico da Casa. Conforme a publicação, os parlamentares teriam conseguido acesso ao resultado da votação secreta que cassou o mandato do senador Luiz Estevão.
Na época do escândalo, Arruda era líder do governo no Senado. O político subiu à tribuna da Casa para desmentir a acusação de que teria tido acesso aos votos por meio da ex-diretora do Serviço de Processamento de Dados do Senado, Regina Célia Peres Borges. Depois, no entanto, Arruda admitiu o contrário.
– É inútil resistir à verdade – afirmou.
Durante discurso marcado por lágrimas, em 24 de abril de 2001, o senador reconheceu que recebeu a lista secreta com os votos da sessão em que Estevão foi cassado, repassou a relação a ACM e testemunhou o momento em que o presidente do Senado agradeceu Regina pelo repasse dos dados.
Em meio ao escândalo, Arruda decidiu deixar a liderança do governo Fernando Henrique Cardoso no Senado e saiu do PSDB. Depois, em 24 de maio de 2001, ele renunciou ao mandato para evitar a cassação.
Escândalo no governo do DF
Filiado ao PFL, Arruda foi eleito, em 2002, como o deputado federal mais votado no DF. Quatro anos depois, ele venceu a disputa para o governo do Distrito Federal e, mais uma vez, foi atingido por um escândalo no fim do mandato, em fevereiro de 2010: Arruda foi preso por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sob a alegação de que teria tentado coagir testemunhas e obstruir a Justiça. Mais uma vez, o político chorou.
– Ele vive uma tortura psicológica. É um homem que chora, que tem a voz embargada sempre que lembra da filha, sempre que lembra que foi o primeiro governador (no exercício do cargo) a ser preso no país – relatou ao G1, na época, o amigo do Arruda e deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF).
A ordem de prisão contra o então democrata (o PFL já mudara de nome) ocorreu em desdobramento à Operação Caixa de Pandora. A residência oficial do então governador e gabinetes de secretários do governo e de deputados da Câmara Legislativa foram alvo de mandados de busca e apreensão da PF, em novembro de 2009. De acordo com as investigações, Arruda teria comandado um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propina para aliados e integrantes do governo.
Em reação às suspeitas, o político exonerou investigados e anunciou a desfiliação do DEM em dezembro de 2009. Dois meses depois, no entanto, Arruda acabou sendo detido e encarcerado na Superintendência da PF, em Brasília. Na Câmara Legislativa, o parecer que pedia o impeachment do governador afastado foi aprovado na comissão especial que analisava o tema. Já no Supremo Tribunal Federal (STF), o plenário da Corte negou o pedido de habeas corpus do político.
No último capítulo daquela crise política, em 16 março de 2010, o Tribunal Regional Federal (TRE) cassou o mandato de Arruda por desfiliação partidária. Pressionado, o político decidiu desistir de recorrer contra a decisão. Quase um mês depois, em 12 de abril, o STJ concedeu liberdade ao ex-governador, já que ele não poderia mais influir nas investigações por ter sido afastado do cargo.
Obras superfaturas no Mané Garrincha
Deflagrada nesta terça, a Panatenaico investiga organização criminosa que teria fraudado e desviado recursos das obras da reforma do estádio Mané Garrincha para a Copa de 2014. As melhorias na estrutura estavam orçadas em R$ 600 milhões, mas custaram R$ 1,575 bilhão aos cofres públicos, gerando superfaturamento equivalente a R$ 900 milhões.
Os alvos da PF são agentes públicos e ex-agentes públicos, construtoras e operadores das propinas que teriam atuado durante três governos no Distrito Federal. A principal hipótese investigada é de que agentes públicos, com a intermediação de operadores de propinas, tenham realizado acordos e simulado procedimentos previstos em edital de licitação.