Um governo com dificuldades, que não ouve nem conversa com ninguém. Essa é a descrição que o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) faz do governo de Michel Temer. Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, o senador criticou as ações do colega de partido, como o projeto da reforma da Previdência, mas ponderou que o país não aguentaria um segundo processo de impeachment. Para Calheiros, "Dilma não sabia o que fazer, e agora Temer não tem o que fazer".
– É um momento de dificuldade na vida nacional. Quando voltamos do Carnaval, o governo tinha ocupado todos os cargos do Parlamento, ou seja, tinha feito um rodízio para acomodar os líderes sem ouvir ninguém, sem conversar com ninguém. Não vai dar certo agindo assim – afirmou.
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Calheiros, que apontou a nomeação de Osmar Serraglio para o cargo de ministro da Justiça como uma "má ideia", afirmou ainda que não faz sentido submeter ao Congresso uma reforma da Previdência nos moldes da que foi elaborada pelo governo Temer.
– Temos que ter uma reforma possível. A idade mínima é uma coisa que precisa ser feita, mas para chegar à igualdade entre homem e mulher, temos que ter um processo de transição, não precisa fazer tudo agora. Essa reforma só vai produzir resultados em 20, 30 anos, não vai resolver o problema de agora. A única coisa que ela oferece agora é a confiança do mercado, então ela precisa ser calibrada – explicou.
Ouça a entrevista na íntegra:
Segundo o ex-presidente do Senado, a reforma nos moldes atuais prejudicá diretamente os trabalhadores e as cidades mais pobres, cuja receita vem em grande parte do INSS. Questionado sobre uma possível aproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições de 2018, Calheiros afirmou que não se deve antecipar a discussão:
– As pessoas falam dessa possibilidade porque há uma convergência. O Lula defende os trabalhadores, e eu tenho dito que acho um erro transferir a conta do déficit da Previdência para os trabalhadores. Mas agora não dá pra antecipar nada de 2018.
Apesar das críticas ao governo Temer, o senador disse que espera que o atual presidente termine o mandato, por acreditar que o país não aguentaria outro processo de afastamento.
– Eu acho que o governo está errando ao querer resolver a crise econômica com mais recessão. Isso é um horror, e vai levar o país em um curto espaço de tempo a uma crise ainda maior. A impressão que tenho, eu que convivi com todos, é que a Dilma não sabia o que fazer. Agora, com essa política econômica, com esse aumento de impostos, a impressão é que o Michel não tem o que fazer.
Em relação à Lava-Jato, apesar de ter sido denunciado em dezembro do ano passado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Renan Calheiros defendeu a operação, mas afirmou que as delações premiadas devem ser regulamentadas.
– Essa operação é uma forma de separar o joio do trigo. Quando fui ministro da Justiça, defendia a delação premiada antes mesmo de ela existir na legislação. Mas ela tem que ser regulamentada, não pode vazar. Ela tem que ter limites, que são os limites da Constituição. No meu caso estou sendo investigado por um "ouvi dizer", não há nada objetivamente contra mim – alegou.
O ex-presidente do Senado, que garantiu que tem suas contas privadas auditadas desde 2002, afirmou ainda que nunca usou dinheiro de Caixa 2, não cometeu irregularidades, e nunca tentou obstruir a Justiça – como fui acusado após a divulgação de gravações de conversas com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.