Uma das semanas mais tensas já vivenciadas em Brasília tem nome: Lava-Jato. É que justo ao se completarem três anos dessa operação, a maior da história da Polícia Federal (PF), políticos de alto quilate entraram na mira dos agentes federais e procuradores da República. O listão de parlamentares, governadores e ministros investigados, que está por sair, representará a etapa mais impactante dessa que virou a versão brasileira da Operação Mãos Limpas, devassa na corrupção do sistema político italiano nos anos 1990.
Tudo é superlativo na Lava-Jato, desencadeada há três anos com o singelo objetivo de desmascarar doleiros que mantinham um posto de combustíveis e uma lavagem de carros em Brasília como disfarce para ocultar dinheiro ilícito. Acontece que esses cambistas de luxo tinham clientes importantes: megaempresários e políticos de expressão nacional. Tanto que a casa de câmbio situada em cima do posto movimentou R$ 10 bilhões. Foi o que os investigadores descobriram após as primeiras prisões, desencadeadas em 17 de março de 2014.
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Ao puxar o fio desse novelo, policiais e procuradores da República desvendaram uma rede de desvio de dinheiro das estatais, sobretudo a Petrobras. Cada contrato – no ramo do petróleo ou em outros grandes empreendimentos – era conquistado pelas empresas mediante pagamento de suborno a servidores públicos graduados e políticos. Vários deles foram presos, bem como seus aliciadores, empresários situados no alto do ranking do PIB brasileiro. Outros suspeitos toparam colaborar com a Justiça, detalharam o esquema e apresentaram provas (contas, valores depositados no Exterior, filmagens de entrega de dinheiro em espécie etc). Até agora, 148 delatores firmaram acordo com o Ministério Público Federal (MPF).
As delações foram adotadas até por quem tinha por princípio recusá-las, como a liderança da Odebrecht. Um dos advogados que representou a empreiteira nos acordos de colaboração premiada – embora seja avesso a essa prática – é o gaúcho Alexandre Wunderlich, professor de direito penal na PUCRS. Ele assistiu 10 dos 77 colaboradores da construtora e admite que a força-tarefa obteve êxito na jurisdição, tanto em Curitiba como nos tribunais superiores:
– Foram relativizadas certas garantias dos réus. E a operação adotou a colaboração como estratégia. Todos tiveram de se adaptar.
Uma estratégia que parece ter dado resultado. Juntas, a PF e o MPF realizaram investigações que conseguiram recuperar R$ 10 bilhões (o mesmo valor que tinha sido movimentado pelos doleiros), grande parte no Exterior. A busca por dinheiro desviado está longe de parar, até porque uma nova leva de 320 pedidos acaba de ser solicitada – e vai atingir o coração do sistema político brasileiro. Tudo baseado nas delações de 78 executivos da maior empreiteira brasileira, a Odebrecht. É suspense que não acaba mais.
– Vamos regionalizar a Lava-Jato pelo Brasil inteiro. Até porque o esquema de troca de favores entre políticos e empresários detectado inicialmente no Paraná se repetiu país afora. Onde tem contrato, tem rolo – resume Antônio Carlos Welter, procurador da República que atua na Lava-Jato.
Detalhes dessa regionalização estão condicionados aos humores do Supremo Tribunal Federal (STF), que dirá quem será processado nos Estados e quem terá foro especial. A expectativa é de que fiquem em Curitiba (sede da Lava-Jato) mais da metade dos 211 inquéritos que devem atingir pessoas sem foro.