Demissões em massa e dificuldades para recuperação econômica atingem empreiteiras gigantes maculadas pela corrupção. Passar a limpo o país tem um custo. Ele pode ser traduzido, em grande parte, pela crise financeira que atinge as empresas mais envolvidas em denúncias de corrupção apuradas pela Operação Lava-Jato.
A maior delas, o grupo Odebrecht, tinha 168 mil funcionários em 2014. Entrou 2017 com aproximadamente 100 mil integrantes – ou seja, mais de um terço do quadro funcional foi cortado nesses três anos de investigações. Consequência de contratos interrompidos no meio, anulações de acordos econômicos mundo afora e muitas rescisões trabalhistas pagas.
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Os últimos três anos transcorreram quase sem novos contratos, que são o oxigênio das finanças de uma empresa. Entre as obras paralisadas está o BRT Transbrasil, último dos corredores viários do Rio, que interligará 155 quilômetros de vias expressas. A Odebrecht é a principal empreiteira nesse contrato. Apesar de ter acertado pagamento de multas bilionárias como parte de um acordo para diminuir as penas de seus executivos, essa obra ainda não foi retomada. Tudo agravado pela recessão econômica que atormenta o Brasil.
A construtora Camargo Corrêa, que tinha cerca de 28 mil funcionários em 2014, está com 16 mil hoje. A Queiróz Galvão demitiu 13 mil de seus 30 mil funcionários. A Mendes Júnior teria demitido cerca de 4 mil de seus 10 mil empregados. A Andrade Gutierrez, que tinha cerca de 50 mil empregados, demitiu 8 mil operários na Ferrovia Leste-Oeste (na Bahia), mais de 1 mil no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e 1.125 na construção da usina nuclear Angra 3, que está parada. São estimativas, já que as empresas não têm repassado dados sobre os cortes funcionais.
No final do ano passado, economistas estimaram que R$ 31 bilhões em projetos estruturais do país (portos, aeroportos, rodovias e transporte urbano) aprovados pelo BNDES estagnaram nos últimos três anos, porque as empresas vencedoras estavam envolvidas na Lava-Jato e com seus financiamentos bloqueados. Essas obras seriam capazes de gerar 900 mil empregos.
Cobrança por prejuízos aos cofres públicos
Além da imagem prejudicial aos negócios e da crise econômica, as empresas envolvidas na corrupção da Lava-Jato têm sido cobradas pelos prejuízos causados ao erário. O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com ações de cobrança contra seis delas, para que paguem R$ 11,76 bilhões, entre danos materiais e morais coletivos e multa. A maior parte do valor – R$ 7,3 bilhões – se refere à Odebrecht, mas o processo foi suspenso porque a empreiteira assinou acordo de leniência (espécie de delação premiada para empresas).
As outras ações prosseguem. São contra Camargo Corrêa (cobrança de R$ 845 milhões), Engevix (R$ 539 milhões), Galvão Engenharia (R$ 1,1 bilhão), OAS (R$ 989 milhões) e Mendes Júnior (R$ 1 bilhão).
Algumas empreiteiras correram à frente e conseguiram um pequeno alívio por meio dos acordos de leniência – nos quais admitem os crimes e pagar indenizações por eles. É o caso da Odebrecht, que se comprometeu a pagar multa de R$ 6,7 bilhões em 20 anos, valor dividido entre Brasil (70%), EUA e Suíça. Em contrapartida, a empreiteira garantiu o direito de voltar a ser contratada pelo poder público e de tomar empréstimos bancários.
A Andrade Gutierrez também assinou o seu, se comprometendo com pagamento de multas (R$ 1 bilhão). A Camargo Corrêa assinou dois acordos: um sobre licitações na estatal Valec e outro na construção de Angra 3 (dois assuntos que surgiram com a Lava-Jato), num total de R$ 804 milhões. A Setal, que atuava na construção de plataformas da Petrobras em Rio Grande (RS), garantiu pagar R$ 15 milhões. A Carioca Engenharia, R$ 10 milhões.
A OAS tentou e teve recusado o seu pedido de leniência. A Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu que a empreiteira sonegou provas e colaborou apenas parcialmente com as investigações.
O diretor-presidente da OAS, Leo Pinheiro, está preso desde 2014 (com um breve intervalo de liberdade) e condenado a 26 anos de prisão. Ele também tentou acordo de colaboração premiada, que foi recusado pelo Judiciário.