A investida do governo Temer e do Congresso contra os efeitos da Lava-Jato desperta reações entre os investigadores do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF). No núcleo da maior operação de combate à corrupção da história do país, cresce a convicção de que há uma tentativa não só de frear as apurações como também de libertar o quanto antes o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Ao depor ao juiz Sergio Moro por quase três horas na terça-feira, Cunha reafirmou a participação de Temer na indicação de diretores para a Petrobras, contrariando o que o próprio presidente havia dito em depoimento por escrito à PF. No mesmo dia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou a atuação de Moro, ao considerar excessivo o tempo de confinamento dos acusados.
– Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre esse tema, que conflita com a jurisprudência que construímos ao longo desses anos – pontuou o ministro, um dos mais influentes conselheiros de Temer.
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Para os procuradores que integram a Lava-Jato, a manifestação foi mais um sinal da blindagem que está sendo construída em Brasília. Auxiliares do procurador-geral, Rodrigo Janot, acreditam que Cunha – que completa neste sábado 115 dias preso em Curitiba – aproveitou o primeiro encontro com Moro para enviar recados ao Planalto e aos antigos aliados no Congresso. Antes, Cunha havia encaminhado a Moro 41 perguntas a serem feitas a Temer, arrolado como sua testemunha de defesa. Em algumas das questões, era explícita a tentativa do ex-deputado de constranger o presidente, citando reuniões de Temer com diretores e fornecedores da Petrobras, inclusive informando o endereço onde teriam ocorrido os encontros.
– Ficou claro que Cunha vai falar. E Gilmar parece estar preparando o terreno para começar a soltar o pessoal – especula um dos procuradores envolvidos na operação.
No Senado, está em curso uma articulação para evitar a recondução de Janot à chefia do MPF. Até mesmo os nomes de outros procuradores vinculados a ele estão no índex da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde têm assento 10 dos 13 senadores investigados pela Lava-Jato. Cabe à CCJ sabatinar e remeter ao plenário da Casa o indicado pelo presidente Temer para o posto. Na última quinta-feira, uma costura entre o Planalto e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), alvo de nove inquéritos na Lava-Jato, colocou na presidência da comissão o senador Edison Lobão (PMDB-MA), investigado em três processos diferentes na mesma operação.
– Temos plena consciência do que está acontecendo, mas o Ministério Público vai entrar cortando. A estratégia não muda. Vamos continuar apurando – diz um dos investigadores.