Um time de 80 procuradores ligados à Operação Lava-Jato começou um mutirão nesta segunda-feira para analisar a maior delação da história criminal brasileira. Eles vão ouvir, um a um, os 77 dirigentes da Odebrecht que aceitaram participar de colaboração premiada – devem falar o que sabem sobre corrupção para diminuir as penas. Os principais depoimentos serão canalizados para Curitiba, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Salvador.
Nesta segunda-feira, o presidente Michel Temer solicitou ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que as delações "por ventura existentes sejam, o quanto antes, finalizadas, remetidas ao Juízo competente para análise e eventual homologação e divulgação".
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Emílio Odebrecht, o patriarca da empresa, será ouvido em São Paulo, onde reside. O filho e herdeiro, Marcelo Odebrecht, será interrogado em Curitiba, onde está preso há um ano e meio, cumprindo pena de 19 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro – o tempo de reclusão será reduzido, conforme negociado para a delação. Outros 13 executivos formam o "núcleo duro", de onde os procuradores esperam obter mais informações.
Todos eles já deram uma primeira versão de como a Odebrecht comprou parte do Executivo e do Legislativo federais, assim como governadores e parlamentares estaduais. Cada um dos 77 colaboradores descreveu fatos criminais em anexos. Neles, foram apontados nomes, ocorrências, datas, números de telefones e de contas bancárias e endereços. Agora, os procuradores farão perguntas gravadas, para verificar detalhes. Tudo isso será posteriormente confrontado com material já apreendido em prédios da Odebrecht e residências de seus dirigentes em três das 37 fases da Lava-Jato.
O Ministério Público Federal (MPF) vai ainda comparar esse material com dados de um computador instalado na Suíça e que era mantido pela empreiteira apenas para regrar pagamentos a políticos (uma espécie de "banco secreto informal", define um procurador).
O equipamento era usado pelo Setor de Operações Estruturadas, voltado apenas para subornar políticos e funcionários públicos. O material a ser coletado será sistematizado e enviado ao relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. Caberá a ele decidir quem será processado.
Os políticos sem mandato ficarão sob julgamento do juiz federal Sergio Moro, em Curitiba.
Uma mostra de quão explosiva podem ser essas delações é o relato de Cláudio Melo Filho, dirigente da Odebrecht que atuava junto ao Congresso. Mas investigadores da Lava-Jato não o consideram o mais importante delator. A perspectiva de procuradores é de que todo o material chegue ao STF em janeiro.