A Polícia Federal colocou o pastor Silas Malafaia no alvo de uma operação contra suspeitas de fraude em royalties. O nome da ação desta sexta-feira faz referência a uma passagem do livro Timóteo, que compõe a Bíblia cristã: "Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição", diz o versículo.
O trecho integra o livro em que o discípulo reproduz uma série de conselhos do apóstolo Paulo – conhecido entre os católicos como São Paulo – para um bom cristão. O texto defende que a mulher "não tenha autoridade sobre o homem", que todos tratemos bem os idosos e que os escravos tenham respeito a seus senhores.
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O capítulo do qual a PF retirou o trecho aconselha não só a escapar das doutrinas que negam Jesus Cristo, mas também evitar a cobiça à riqueza: "O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviam-se da fé e se atormentam a si mesmas com muitos sofrimentos".
Textos religiosos publicados na internet mostram que Timóteo conta com profunda admiração entre os cristãos. Morador de Listra, próxima à cidade hoje conhecida como Konya (Turquia), no século I d.C, ele teria sido convertido para o cristianismo durante uma viagem missionária de Paulo. Timóteo se tornou bispo na região e assumiu a missão de evangelizar o povo. Ao tentar impedir uma procissão pagã, teria sofrido um ataque, que incluiu um apedrejamento.
Timóteo aparece como uma referência para Malafaia. Em um tuíte de 2013, por exemplo, recomendou a leitura de um trecho do livro do apóstolo que orienta os cristãos a fazerem orações "por todos os homens" e pelos reis e autoridade. O pastor também usou frase do livro de Timóteo no mesmo ano para alertar que quem não cuida da família "negou a fé e é pior do que o infiel".
Malafaia é suspeito de ter "emprestado" contas correntes de uma instituição religiosa sob sua influência com a intenção de ocultar a origem ilícita dos valores. A PF desconfia que uma organização criminosa montou um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral – 65% da chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) tem como destino os municípios.
As provas recolhidas pelas equipes policiais devem detalhar como funcionava um esquema no qual um diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral, detentor de informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties, oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria a municípios com créditos de CFEM junto a empresas de exploração mineral.
De acordo com a PF, o esquema se dividia em pelo menos quatro grandes núcleos: o núcleo captador, formado por um diretor do DNPM e sua mulher, realizava a captação de prefeitos interessados em ingressar no esquema; o núcleo operacional, composto por escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria em nome da mulher do diretor do DNPM, que repassava valores indevidos a agentes públicos; o núcleo político, formado por agentes políticos e servidores públicos responsáveis pela contratação dos escritórios de advocacia integrantes do esquema; e o núcleo colaborador, que se responsabilizava por auxiliar na ocultação e dissimulação do dinheiro.
A Operação Timóteo começou ainda em 2015, quando a então Controladoria-Geral da União (CGU) enviou à PF uma sindicância que apontava incompatibilidade na evolução patrimonial de um dos diretores do DNPM. Apenas esta autoridade pública pode ter recebido valores que ultrapassam os R$ 7 milhões.