Em planilhas que produziu e entregou à Procuradoria Geral da República (PGR), o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado apontou que 76% dos recursos que fez chegar às mãos de políticos não foram contabilizados como doação eleitoral na Justiça Eleitoral. As verbas teriam sido repassadas entre 2003 e 2014, segundo informações do jornal Folha de S. Paulo.
Machado entregou planilhas com referências nominais a 19 políticos. A soma dos valores dessas anotações indica que o delator assumiu ter entregue R$ 106,3 milhões em "vantagens ilícitas". Ele separou os pagamentos em duas modalidades: "vantagens ilícitas em doações oficiais" e "vantagens ilícitas em dinheiro".
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O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria recebido R$ 32 milhões. Desse total, R$ 8,2 milhões seguiram por meio de doações eleitorais, incluindo R$ 1 milhão para o filho do senador, Renan Filho (PMDB-AL), candidato a governador de Alagoas em 2014. O valor teria sido doado pela empreiteira Queiroz Galvão. Os outros R$ 24 milhões foram "em dinheiro", por meio de um sistema que Machado diz ter criado, envolvendo codinomes e senhas e encontros com assessores do senador.
Nas anotações sobre o presidente interino Michel Temer (PMDB-SP) e o ex-candidato a prefeito de São Paulo Gabriel Chalita, então filiado ao PMDB, há registro de R$ 1,5 milhão como doação eleitoral no ano de 2012.
O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), na versão de Machado, recebeu R$ 18,5 milhões, a maior parte em dinheiro. Desse total, R$ 400 mil teria sido para a campanha eleitoral de Sarney Filho, em 2010, então no PV, e hoje ministro do Meio Ambiente do governo Temer.
Em relação ao ministro do Turismo, Henrique Alves (PMDB-RN), Machado disse que os pagamentos ocorreram sempre por doações eleitorais, de 2008 a 2014, no valor total de R$ 1,55 milhão.
De acordo com as anotações de Sérgio Machado, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) recebeu R$ 4,2 milhões em doações eleitorais ao longo das campanhas de 2010, 2012 e 2014 e outros R$ 16,8 milhões em dinheiro. As doações eleitorais teriam sido feitas pelas empreiteiras Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia.
Ministro dos governos Lula e Dilma, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) recebeu vantagens, de acordo com Machado, pelas duas formas: R$ 2,7 milhões em doações e R$ 20,9 milhões em espécie.
Sérgio Machado também descreveu, nos depoimentos que prestou como parte do acordo de delação premiada, ter feito pagamentos a outros políticos. Sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), Machado disse que participou de um esquema de arrecadação de recursos para pagamento a parlamentares que apoiassem o tucano na campanha pela presidência da Câmara dos Deputados, em 2000. Do total de R$ 7 milhões arrecadados, disse Machado, Aécio foi beneficiado com R$ 1 milhão em espécie.
Machado também não entregou planilhas sobre o deputado Heráclito Fortes, hoje no PSB, e Sérgio Guerra, falecido senador do PSDB de Pernambuco. Porém, segundo Machado, ambos foram subornados em 2006 para que não criassem problemas para a aprovação de um projeto de lei no Senado que era de interesse da Transpetro e de estaleiros.