O ex-diretor de Internacional da Petrobras e da BR Distribuidora Nestor Cerveró afirmou em sua delação premiada que o ex-ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário, Trabalho e Previdência/governos Lula e Dilma) fez lobby para que a Copersucar S.A. se tornasse a única vendedora de álcool para a estatal.
– As propinas passariam todas a ser controladas pela Copersucar – afirmou Cerveró no termo de delação 19, prestado em dezembro e tornado público na semana passada. – A compra de álcool é um dos principais itens de arrecadação de propina na BR Distribuidora.
Os depoimentos de Cerveró foram gravados em áudio e vídeo pela força-tarefa da Operação Lava-Jato na Procuradoria-Geral da República, a quem compete investigar políticos detentores de foro privilegiado, como deputados e senadores.
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O ex-diretor da Petrobras disse que em 2013, o então presidente da BR Distribuidora José de Lima Andrade Neto o chamou para uma reunião informal para comunicá-lo que Rossetto, que era presidente da Petrobras Biocombustíveis – responsável por álcool e biocombustíveis da estatal – propôs que a Copersucar tivesse um contrato de exclusividade.
– No sentido de que a empresa fosse a única compradora de álcool para a BR, ou seja, a Copersucar seria uma intermediária, comprando o álcool (das usinas) para a BR, que depois faria o trabalho normal dela de distribuição – afirma Cerveró.
A Copersucar S.A. é a maior comercializadora global de açúcar e etanol integrada à produção e a maior exportadora brasileira desses produtos, com atuação nos principais mercados mundiais. A Copersucar atende a 12% da demanda mundial de etanol, segundo informações no site da companhia. No mercado de açúcar, responde por 12% do mercado livre da commodity. Sua plataforma logística tem abrangência global e entre seus clientes estão as principais companhias de petróleo, refinarias de açúcar e indústrias de alimentos do mundo.
Alerta
O delator disse que os integrantes da diretoria fizeram objeções e afirmaram que a ideia era "muito ruim, porque o negócio não seria bom para a BR e não faria sentido". Ele relatou que Lima defendeu a empreitada com "entusiasmo".
– Quem surgiu com essa ideia foi Miguel Rossetto, e Lima levou-a adiante. Alguém da Copersucar levou essa ideia para Miguel Rossetto. Se a ideia fosse implementada, as propinas relativas à compra de álcool seriam pagas pela Copersucar, não mais pela BR – afirmou Cerveró aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato. – Acredito que haveria um negócio que o Rossetto participaria porque quem trouxe o negócios para o Lima foi ele e pelo entusiasmo que o Lima defendeu havia um interesse dos dois em fechar esse acordo com a Copersucar – respondeu, ao ser perguntado se acredita que o episódio envolveria propina.
Cerveró disse também que a negociação não trazia vantagens para a estatal.
– Para a BR não trazia benefício nenhum, isso só beneficiava a Copersucar que ganhava um poder de compra e de negociações, porque a transformava na maior compradora de álcool do Brasil. Esse tipo de coisa não acontece de graça.
O delator afirmou que os dois "grandes beneficiários da propina na BR" seriam Pedro Paulo Leoni Ramos, o PP, ex-ministro e operador de do senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello, e o então senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).
– PP e Delcídio ficaram muito irritados com essa ideia.
O delator diz que a subsidiária da Petrobras era dividida pelo PT, PMDB e PTB (na época, cota do senador Fernando Collor de Mello).
Defesa
Por meio de nota, Rossetto afirmou que receber e conhecer empresas "fazia parte" de sua rotina de trabalho e que, por isso, receber a Copersucar, "maior empresa do país em produção de etanol, deve ser encarado como parte do trabalho do presidente da Petrobras Biocombustíveis, e, em hipótese alguma, lobby". O ex-ministro disse ainda que, enquanto presidente da Petrobras Biocombustíveis, trabalhou "de forma permanente com a BR Distribuidora no sentido de reduzir custos de logística e comercialização".
"Pensando nisso, Petrobras Biocombustíveis e BR Distribuidora sempre desenvolveram estudos para buscar eficiência nas operações de produção e venda de etanol e biocombustíveis, incluindo a Copersucar, dentre outras", diz a nota. "Repudio com veemência toda e qualquer insinuação sobre minha conduta apontada pelo réu confesso Nestor Cerveró", conclui o texto.
A Copersucar não respondeu aos questionamentos da reportagem.