Uma se afastava do poder denunciando o que chama de golpe; outro assumia como presidente interino fazendo uma espécie de apresentação. O tom das falas da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) e de seu então vice, Michel Temer (PMDB), no dia em que a continuidade do processo de impeachment foi aprovada no Senado, foi muito diferente. De um lado, um discurso de vítima, mencionando injustiças e prometendo lutar. Do outro, um político dizendo haver dificuldades de comandar um país em crise, mas prometendo superar o conturbado cenário político nacional.
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Os objetivos de cada um – Dilma, antes de deixar o Palácio do Planalto, e Temer ao falar pela primeira vez como presidente em exercício, na posse dos novos ministros – ficam claros ao se ler ou ouvir a íntegra de suas exposições. E uma análise das palavras mais usadas nessas ocasiões deixa ainda mais óbvio o que foi dito com maior frequência, e aquilo que os protagonistas preferiram apenas tangenciar ou sequer mencionar.
Horas após saber que ficaria afastada da Presidência da República por até 180 dias, Dilma Rousseff atacou o processo que tramita no Senado. Direitos, conquistas, desafios e injustiça figuraram entre seus termos preferidos. Mas são as três palavras mais repetidas que deixam claro o tom de seu discurso.
"Golpe", "democracia" e "governo" definem as diversas frases da presidente afastada defendendo que o processo de impeachment é uma tentativa de golpe contra seu governo e contra a democracia. "Mulher", "orgulho" e "presidenta" também fazem parte do vocabulário utilizado no dia em que ela deixou o Palácio do Planalto.
Comparado ao de Temer, Dilma fez um discurso relativamente curto: usou metade das palavras – que também foram, em um quadro geral, menores – que seu antigo aliado político. Foram 1,3 mil em cerca de 15 minutos.
As palavras mais usadas por Dilma em seu discurso:
democracia - 10 vezes
golpe - 10 vezes
governo - 10 vezes
país - 8 vezes
crime - 7 vezes
impeachment - 7 vezes
luta - 7 vezes
Algumas das palavras preferidas de Dilma sequer foram mencionadas por Temer em seu discurso: "golpe" e "impeachment" não aparecem nenhuma vez no pronunciamento do presidente interino. Ele preferiu usar palavras agregadoras, buscando apoio ao governo que começava naquele 12 de maio.
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Entre os termos mais utilizados por Temer estão "Brasil", "país" e "todos" – que basicamente formam uma frase usado como slogan pelo governo petista. "Povo" e "governo", com praticamente metade das citações das anteriores, também aparecem com frequência. Outra palavra bastante repetida foi "senhores", curiosa em um governo que não tem mulheres ocupando ministérios, o que tem sido alvo de críticas.
Mais longo, o pronunciamento de Temer teve quase duas vezes mais palavras que o de Dilma: foram 2,7 mil, apesar de ele ter dito, logo no início, que pensou "que não lançaria nenhuma mensagem" naquele momento.
As palavras mais usadas por Temer em seu discurso:
país - 19 vezes
todos - 17 vezes
Brasil - 14 vezes
tempo - 10 vezes
povo - 9 vezes
senhores - 9 vezes
governo - 8 vezes
* Zero Hora