Nove dias depois de a Operação Concutare expor as linhas gerais de um esquema de fraude na concessão de licenças ambientais, o Rio Grande do Sul é sacudido pela revelação de que milhões de litros de leite foram adulterados com a adição de água de poço, para aumentar a quantidade entregue na indústria, e de ureia com formol para mascarar a perda de nutrientes. Ureia, um fertilizante conhecido por deixar a grama mais verde, era misturado ao leite, alimento básico para crianças. Um crime inominável, praticado por empresários inescrupulosos para aumentar o lucro.
O senso comum costuma fazer a associação imediata entre corrupção e política, mas uma observação atenta das operações do Ministério Público e das polícias mostra que o protagonismo nas fraudes não é exclusividade de quem passou pelas urnas ou ocupa cargos públicos. Mesmo quando a corrupção envolve políticos, não se pode esquecer que do outro lado existe o corruptor. Sem a figura de alguém que se disponha a pagar propina, não existe o corrompido.
No caso do leite, as fraudes detectadas em três regiões do Estado tinham no comando, segundo a investigação, transportadores que atuavam como intermediários, cometiam crime contra a saúde pública e contra o Fisco, porque adulteravam notas fiscais. Nenhum dos oito presos é político. As indústrias que receberam o produto adulterado e não detectaram a fraude se dizem vítimas, mas a verdade é que falharam e pagarão caro por isso: sua credibilidade já foi para o ralo e terão prejuízos incalculáveis com o repúdio do consumidor à marca.
O noticiário dos últimos dias revelou a existência de uma fraude contra o SUS em que médicos cobravam por sessões de quimioterapia de pacientes falecidos. Resumo da ópera: há corrupção na política, sim, mas ela está disseminada por amplos setores da sociedade.