Não, o mundo não vai acabar porque o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) se recusa a renunciar à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. É uma excrescência, sim, mas, para um Congresso que já tem tantas aberrações, não faz muita diferença. Talvez seja até positiva essa exposição das vísceras das comissões para o eleitor compreender como funcionam as coisas na Câmara e no Senado.
Feliciano não caiu de paraquedas na Comissão de Direitos Humanos.Foi escolhido por seus pares, já que no loteamento de cargos a vaga coube ao PSC. Por que os grandes partidos não brigaram pela CDH? Porque havia outros cargos mais importantes em disputa. Direitos Humanos é bronca certa e só dá ibope com as minorias. Melhor brigar pela poderosa Comissão de Constituição e Justiça, ou pela glamourosa Comissão de Relações Exteriores. Por que não a de Saúde? Ou a de Educação? Sobrou a de Direitos Humanos para o partido dos pastores.
Outros membros da bancada do PSC podem não ter a incontinência verbal de Feliciano, mas não pensam muito diferente dele em questões como a união entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo.
Com seus eleitores e com os colegas de bancada, o pastor ganha pontos ao resistir no cargo e ao defender posições medievais. Apesar da separação entre Igreja e Estado, a força dos evangélicos no Congresso é indiscutível.
O problema de Feliciano não são apenas as bobagens que diz, mas o que faz. O vídeo do achaque a um fiel - aquele que deu o cartão mas não deu a senha - durante culto em sua igreja, deveria ser suficiente para desqualificá-lo como presidente da comissão.
A resistência de Feliciano pode ser pedagógica: da próxima vez, os parlamentares pensarão duas vezes antes de entregar a presidência de uma comissão a figuras como ele. Muitos dos que protestam contra Feliciano na internet nem sabiam que a Comissão de Direitos Humanos existia. Agora, sabem e poderão fiscalizar melhor o trabalho.
Opinião
Rosane de Oliveira: "Exposição pedagógica"
Rosane de Oliveira
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