Pressionada entre a expectativa das famílias de desaparecidos e a contrariedade de militares, a Comissão Nacional da Verdade avança com dificuldade no esclarecimento de crimes cometidos pela ditadura (1964-1985).
O grupo está prestes a completar nove meses de um cronograma de dois anos de trabalho.
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Confira entrevista com Claudio Fonteles,
coordenador da Comissão Nacional da Verdade
Neste período, a equipe produziu resultados pontuais, mas de impacto, como o desmonte da versão oficial para o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva. Documentos divulgados nesta semana pelo coordenador da comissão, Claudio Fonteles, desfazem a tese de fuga e indicam que o parlamentar morreu no DOI-Codi do Rio.
Em novembro, a comissão responsabilizou 11 agentes do Estado, militares e civis, pela morte sob tortura de cinco militantes de esquerda. À época, Fonteles também afirmou que o guerrilheiro Carlos Marighella foi morto sem esboçar reação, ao contrário da versão oficial.
A principal fonte da comissão tem sido o Arquivo Nacional, que abriga registros do Serviço Nacional de Informações (SNI). O acesso aos documentos militares, porém, é limitado: o grupo precisa encaminhar às Forças Armadas pedidos de informações, nem sempre bem sucedidos.
- Havia até quem dizia que era uma comissão que não acrescentaria nada do ponto de vista de fatos que já estavam sepultados. Esse fato mostra que a comissão foi bem-vinda - disse na quinta-feira o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, referindo-se às apurações sobre a morte de Rubens Paiva.
Ainda assim, alguns familiares de vítimas da repressão estão insatisfeitos com a falta de resultados práticos e um suposto caráter acadêmico da comissão. Eles afirmam que a equipe gasta muito tempo em casos que já estariam esclarecidos.
- Essa questão histórica é importante, mas não é só isso. Fonteles é um deslumbrado. Ele foi no programa da Miriam Leitão e abria as gavetas dos arquivos dizendo: "venham pesquisar". Mas isso já foi feito por milhares de pesquisadores. Parece que o Brasil não tem pesquisador. Isso desgasta as pessoas, é um desgaste emocional muito grande - reclama a presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Victória Lavínia Grabois Olímpio.
Já o ativista Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, é mais contido. Defende a ampliação do prazo para que a equipe tenha mais tempo e estrutura para trabalhar.
- Em dois anos, a comissão não vai produzir o que o povo brasileiro merece - diz Krischke.
Anos de chumbo
Comissão Nacional da Verdade avança com dificuldade no esclarecimento de crimes da ditadura
Criado há nove meses, grupo esbarra na falta de documentos e enfrenta resistências
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