BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O novo ministro das Comunicações, Fábio Faria, deve contratar uma consultoria de gestão que formule um plano de redução dos custos tanto com o quadro de pessoal como com o aluguel de imóveis da EBC (Empresa Brasil de Comunicação).
Em conversas reservadas, que foram relatadas à reportagem por auxiliares presidenciais, o ministro avalia que dificilmente a empresa terá condições de ser privatizada no curto prazo.
A opinião dele é compartilhada pela cúpula militar, para a qual a estatal é fundamental na estratégia de comunicação do governo.
A EBC tem hoje mais de 1.800 funcionários e, no ano passado, teve uma despesa total de R$ 549 milhões, o que representou um déficit de R$ 87 milhões em relação às suas receitas próprias. Só com a folha de pagamento e encargos trabalhistas, o gasto foi de R$ 326 milhões.
A ideia discutida no governo é tentar diminuir a folha de pagamento, por meio de novos PDVs (Planos de Demissão Voluntária) e reduções de cargos comissionados, e vender parte da estrutura física.
O patrimônio em equipamentos foi avaliado no início do ano passado em cerca de R$ 70 milhões.
A pasta ainda não definiu uma meta de redução, mas a defesa no Palácio do Planalto é a de que o custo anual do conglomerado de comunicação seja reduzido para pelo menos zerar o déficit da empresa. Para isso, assessores presidenciais são favoráveis a novas fusões de emissoras.
Hoje, a empresa estatal é formada por um canal televisivo, sete emissoras de rádio, uma agência e uma radioagência de notícias.
No início do atual mandato, o governo fundiu a grade de programação da TV Brasil e da TV NBR, em um esforço de redução dos custos da companhia.
Em maio, a empresa estatal foi incluída para estudos técnicos no programa de privatizações de empresas públicas. E, neste mês, o presidente Jair Bolsonaro disse que o novo ministro colocaria a EBC para funcionar e afirmou que ela será vendida para a iniciativa privada assim que for possível.
No Palácio do Planalto, no entanto, há ceticismo sobre a privatização. A avaliação é a de que, além de o conglomerado ser uma peça importante na estratégia de comunicação, dificilmente haverá empresas privadas interessadas em adquiri-la.
Além da redução do tamanho da estatal, o ministro avalia, segundo relatos feitos à reportagem, criar um serviço internacional. O objetivo, segundo assessores da pasta, é, por meio de canais oficiais, tentar suavizar a imagem negativa da atual gestão no exterior, sobretudo na Europa.
Para isso, está em avaliação ou oferecer um serviço de streaming ou viabilizar uma estrutura no exterior. O foco seria sobretudo em países como França e Alemanha, que, na visão do governo, têm divulgado informações negativas sobre o Brasil, como na área de proteção do meio ambiente.
Na campanha eleitoral, Bolsonaro chegou a avaliar a extinção da EBC. Após ser eleito, a ideia foi abandonada, e a equipe presidencial deu início a uma reestruturação da companhia, que levou a uma fusão da programação dos canais de televisão.
Durante o mandato, Bolsonaro fez outras mudanças na empresa, como o aumento do número de militares em postos estratégicos. O atual presidente da EBC, por exemplo, é o general do Exército Luiz Carlos Pereira Gomes.
No fim de março do ano passado, funcionários da estatal divulgaram nota interna, a dois dias do aniversário de 55 anos do golpe militar de 1964, que denunciava a censura no conteúdo jornalístico sobre a efeméride.
De acordo com o texto, expressões como "aniversário do golpe" e "ditadura militar" eram substituídas, respectivamente, por "comemoração de 31 de março de 1964" e "regime militar".
A mudança de postura, de acordo com eles, teve início após Bolsonaro ter determinado que a data tivesse "comemorações devidas" em unidades militares.